Em toda a
história dos filmes de aventura, uma obra se destaca como a maior de todas.
Falo de As Aventuras de Robin Hood – The Adventures of Robin Hood. Este clássico absoluto do cinema tem fãs
de todas as idades, pois foi passado de geração para geração, graças às contínuas
exibições na Sessão da Tarde na TV Globo lá pelos anos 1970 e 1980. Contudo, a
história de sua produção é bastante curiosa e vale a pena ser conhecida, pois é um clássico de aventura que deu abertura para outros filmes do gênero.
|
Jack L. Warner |
Em 19 de julho
de 1935, Dwight Frankilin, que era o consultor visual especial de Capitão Blood, envia a Jack L. Warner
(1892- 1978) um memorando vazado nestes termos:
“O Senhor não acha que James Cagney
poderia fazer um ótimo Robin Hood? Será um filme inteiramente diferente daquele
de Douglas Fairbanks. Tenho muitas idéias sobre isso se o senhor estiver
interessado”.
Jack L
aprova a sugestão, e James Cagney (1899-1986) é anunciado como astro do filme.
No entanto, em novembro, em um litígio com o estúdio, Cagney vai embora e não
volta a Burbank por dois anos. Logo, a 8 de setembro de 1936, telegrama de Hal
B. Wallis para Jack L: Falei com
roteiristas sobre “Robin Hood”. Depois de “Capitão Blood”, ninguém melhor que
Errol Flynn para o papel. Acho bom divulgar essa notícia imediatamente e deixar
Cagney ficar sabendo o que esta perdendo com sua atitude.
Hal B.
Wallis (1899-1986) não gostou do primeiro script
feito por Rowland Leigh (1902-1963) e recusa. A tarefa então é confiada a
Norman Reilly Raine (1894-1971) e Seton I. Miller (1902-1974). Wallis lhes dá
rígida orientação sobre o que quer para o filme e assim evitar os problemas e a
perda de tempo tidos com o roteiro de Leigh.
|
William Keighley |
A 7 de
setembro de 1936, Anita Louise é escalada para fazer a donzela Marian. William
Keighley (1889-1984) é escolhido como
diretor e é selecionado todo elenco de apoio: Basil Rathbone, Claude Rains,
Patric Knowles, Eugenne Pallete, Alan Hale, e Una O’ Connor à frente.
|
Anita Louise, a primeira escolha para Lady Marian
A 16 de
setembro do mesmo ano, a extremamente bem sucedida parceria de Olivia de
Havilland (1916-2020) com Errol Flynn (1909-1959), em Capitão
Blood e A Carga da Brigada Ligeira leva
o estúdio a decidir-se por Olivia para o papel antes oferecido a Anita Louise
(1915-1970).
|
|
Anita Louise com Cornel Wilde em O FILHO DE ROBIN HOOD. |
Quanto a
Anita, a delicada atriz loura que acabava de perder o papel de Lady Marian para De
Havilland, acabaria por interpretar a donzela dez anos depois, em 1946, no
mediano O Filho de Robin Hood (The Bandit
of Sherwood Forest), dirigido por George Sherman e Henry Levin para a
Columbia, e estrelada por Cornel Wilde no papel de Robin.
Para as
filmagens de locação, escolheram os atrativos terrenos e matas de Bidwell Park,
na cidade de Chico, a 560 quilômetros ao norte de Los Angeles, para as cenas
passadas na floresta de Sherwood. E os Busch Gardens, onde seria filmado o
torneio de arco e flecha. Já outros exteriores, foram feitas em Lake Sherwood,
a noroeste de San Fernando Valley, e em algumas áreas apropriadas, dentro do
próprio estúdio.
|
O duelo de Robin (Errol Flynn) e João Pequeno (Alan Hale) |
A 7 de
outubro, em telegrama enviado para Keighley, em Chico, o exigente Wallis elogia
os copiões resultantes dos trabalhos dos três primeiros dias de filmagem, ao
mesmo tempo em que reclamava ter ele levado outros três dias apenas para filmar
o encontro entre Robin Hood e Little John, que sequer foi completado.
Considerou as cenas líricas demais e lhe pediu para evitar tomadas
sofisticadas, ângulos visualmente bonitos que não resultam em nada e que atente
para mais emoções e a ação impulsora de
que o filme necessita.
|
Michael Curtiz |
Logo, Wallis
viu que Keighley precisava de uma mãozinha mais experiente e dominante, e que o
filme estava mesmo precisando de Michael Curtiz (1886-1962), um dos maiores
cineastas da História da Sétima Arte. Curtiz já havia provado sua habilidade em
filmes de época com Errol Flynn, e havia concluído a direção de Onde o Ouro se Esconde (Gold Is Where), também
filmado em Chico, com George Brent, Claude Rains, Olivia De Havilland, e Tim
Holt.
|
Errol Flynn, o mais popular Robin Hood do Cinema, até hoje!!! |
A 29 de
novembro, Keighley filma sua última cena, aquela em que se passa no quarto de
Lady Marian, com De Havilland e Una O’ Connor, levando quase 9 horas para
faze-lo, chegando a concluí-la na manhã seguinte. Nesse mesmo dia, Keighley foi
substituído por Michael Curtiz, que assume imediatamente as funções, fazendo
inicialmente a extraordinária sequencia do banquete, para qual Robin Hood se
convida.
|
DIVULGAÇÃO |
Finalmente,
em janeiro de 1936, as filmagens se completam, e Hal B Wallis, no dia 21,
sugere a Jack L. Warner que os anúncios do filme sejam feitos em destaque ao
título As Aventuras de Robin Hood,
com Errol Flynn e Olivia De Havilland. A Ideia era vender o título do filme, a grandeza do assunto
e a nobreza do personagem, vindo a seguir o nome dos atores principais. Ao
custo final de produção, eleva-se a dois
milhões e trinta e três mil dólares, tornando-se o filme mais caro da
Warner Bross até então, mas valeu a pena.
|
Errol Flynn: O clássico Robin Hood da Sétima Arte. |
A WB faturou
perto de quatro milhões de dólares só no mercado norte americano e no Canadá, e
naturalmente, outros bons milhões de bilheteria nos cinemas do mundo inteiro.
Caso fosse realizado nos nossos dias, segundo o saudoso jornalista João Lepiane,
seu custo não seria inferior a 60 ou 70 milhões de dólares.
|
AS AVENTURAS DE ROBIN HOOD |
ERROL
FLYNN Já havia sido revelado espetacularmente em Capitão Blood, em 1935, e confirmado como ator exemplar em A Carga da Brigada Ligeira, no ano
seguinte. Indubitavelmente, Errol foi a escolha ideal da WB para reviver na
tela o lendário herói da floresta de Sherwood.
|
DIVULGAÇÃO |
Ao tempo da
produção, Errol contava com 28 anos de idade e em sua melhor forma
atlética, apesar de ter enfrentado, já na época, problemas de saúde. Errol, inclusive, havia sido recusado
para servir o exército por conta de sua saúde. Sofria de malária, de
tuberculose e do coração (chegou a ter enfarte durante uma filmagem e o duelo
de Robin Hood teve que ser feito aos poucos para ele poder aguentar). Mas o
estúdio também não queria que o público soubesse a verdade sobre o seu astro.
|
DIVULGAÇÃO |
|
AS AVENTURAS DE ROBIN HOOD |
Mas tudo
isso foi superado graças à insistência vitalidade, o bom humor, e o charme
irresistível, feito dele uma figura sem par em toda a Hollywood. Flynn foi
escolhido tão bem que não tem como não pensar em outro ator que leve o personagem
a perfeição, com ele se identificando definitivamente. Em suma, quando se fala
de Robin Hood no mundo do cinema, se lembra de Errol Flynn. Parece que nasceu
para fazer este papel, como se ele fosse o herói em outra encarnação, nas palavras do saudoso crítico de cinema João Lepiane.
|
Olivia de Havilland e Errol Flynn: Uma das grandes químicas românticas das grandes telas. |
|
Errol Flynn recebe a visita da esposa, a bela atriz Lili Damita, durante as filmagens
|
|
Treinado por um dublê |
Nenhum outro
ator foi tão belamente heroico, e em sua sublime hora, ele tem tudo: a
elegância, o porte, a boa aparência, o ótimo físico, mas o mais importante, um
brilho no olhar que o torna ainda mais atraente, sobretudo, para o público
feminino. Assim era Errol Flynn a personificar seu papel mais carismático e famoso!
|
Erich Wolfgang Korngold |
A
TRILHA SONORA é
também uma das maiores glórias do filme, com marcante menção musical de Erich
Wolfgang Korngold (1897-1957), uma das mais perfeitas combinações de som e
imagem jamais conseguidas em um filme, pois cerca de dois terços da projeção são apoiadas pela musica de Korngold, que é praticamente um libreto de
ópera menor. Os resultados valeram ao compositor austríaco o Oscar pela Melhor
Música original de 1938, e pensar que estava a recusar a compor por não se
tratar de um estilo seu. Caso recusasse, Erich voltaria a Viena, onde
certamente teria sérios problemas para fugir à perseguição dos nazistas, que o
declararam persona non grata . Até o
fim de sua vida, em 1957, Korngold sempre declarava que fora Robin Hood que lhe
salvara a vida.
|
Olivia e Errol... |
|
...um casal perfeito nas telas! |
O
ELENCO MAGISTRAL – Nunca
se havia reunido numa obra cinematográfica um cast numeroso que chegasse a homogeneidade, portanto, As Aventuras de Robin Hood se incluí no
privilegiado grupo de filmes chegado a perfeição interpretativa. Errol Flynn já
foi destacado. Olivia De Havilland, com a suavidade de sua beleza e ao ser
talentoso charme, dão um fascínio especial as cenas de que participa, pois sua
Lady Marian parece sair de um livro de histórias de um conto de fadas.
|
Basil Rathbone como o inesquecível vilão. |
|
Rathbone e Melville Cooper, como o ridículo Xerife de Nottinghan |
|
O confronto final entre Robin e Sir Guy.
|
Basil
Rathbone (1892-1967) como o arrogante e perverso Sir Guy de Gisbourne, com a
conhecida eloquente e sarcástica dicção, dá um tremendo show de vilania. Outro
vilão de categoria, Claude Rains (1889-1967), como o astuto, hipócrita,
traidor e usurpador do trono do irmão Ricardo Coração de Leão (Ian Hunter,
1900-1975), o Príncipe John, conhecido
na História como o João Sem Terra.
|
Flynn com Patrick Knowles, que vive Will Scarlett, parceiro de aventuras de Robin |
|
Claude Rains (no meio), magnífico como Príncipe John. |
|
Ian Hunter como Ricardo Coração de Leão |
Alan Hale
(1892-1950, pai de Alan Hale Jr, alguns o confundem por pai e filho serem muito
parecidos) repetiu o papel de Little John (João Pequeno) que havia feito na versão de 1922 com
Douglas Fairbanks, valeu a pena ser revisto, pois sempre foi bom ver Hale numa
obra clássica.
|
Alan Hale como João Pequeno. |
|
AS AVENTURAS DE ROBIN HOOD |
Eugene
Pallete (1889-1954) como Frei Tuck; Patric Knowles (1911-1995), sensacional
como Will Scarlet; Melville Cooper (1896-1973) como o ridículo Xerife de Nottingham; Una
O’ Connor (1880-1959), como Bess, a dama de companhia de Lady Marian; Herbert
Mundín (1898 – 1939), ator prematuramente falecido aos 40 anos de idade em um
acidente de carro, como o baixinho e divertido Much; e Ian Hunter, já
mencionado, faz um Rei Ricardo com dignidade. Todos magníficos e exuberantes em
seus papéis.
|
AS AVENTURAS DE ROBIN HOOD: Um clássico absoluto dos filmes de aventura, que consegue ainda encantar passados mais de 80 anos de seu lançamento. |
|
Reprise pelas grandes salas cariocas por volta dos anos de 1960. |
|
Estreia do filme no Rio de Janeiro em 1939 (Cine Palácio, na Cinelândia. Hoje é o Teatro Riachuelo). Divulgação pelos jornais cariocas.
|
AS
AVENTURAS DE ROBIN HOOD esteve entre outros nove filmes
indicados para a premiação da Academia de Ciências e Artes Cinematográficas de
Hollywood, na categoria Melhor Filme, mas o grande vencedor da noite foi Do Mundo nada se Leva, de Frank Capra.
Mas foi premiado com os Oscars de Melhor Trilha Sonora, já mencionada, por
Erich Wolfgang Korngold e por Melhor Direção de Arte para Carl Jules Weyl
(1890-1948). Aclamado e popular até os nossos dias, foi o primeiro filme colorido de grande custo, uma vitória para a Warner que usou o Technicolor de três faixas, com orçamento de US$ 2,47 milhões de dólares, o filme mais caro deste estúdio na época.
|
DIVULGAÇÃO |
|
ERROL FLYNN é pura adrenalina! |
|
AÇÃO E AVENTURA em AS AVENTURAS DE ROBIN HOOD! |
Passados
mais de 80 anos de sua estreia, AS
AVENTURAS DE ROBIN HOOD continua eletrizando muitos cinéfilos, sejam veteranos ou jovens, afinal
desde o seu lançamento foi um filme que não envelheceu e veio conquistando
plateias por mais de cinco gerações, graças as suas reprises nos antigos
cinemas poeirinhas nos anos de
1960/70, ou mesmo pela televisão. Um dos dez
maiores filmes de todos os tempos na conclusão deste redator e um dos grandes filmes Capa & Espada da História de Hollywood.
País – Estados Unidos
Ano de Produção – 1938
Gênero – Capa & Espada. Aventura
Direção: Michael Curtiz e William
Keighley
Produção: Hal B. Wallis, Jack L.
Warner (não creditado) e Henry Blanke (não creditado) em produção e
distribuição da Warner Brothers.
Roteiro: Norman Reille Raine, Seton
I. Miller e Rowland Leigh, baseado na lenda de Robin Hood.
Música – Erich Wolfgang Korngold
Fotografia – Sol Polito e Tony Gaudio
(em cores)
Metragem – 102 minutos
Errol Flynn – Robin Hood
Olivia De Havilland – Lady Marian
Basil Rathbone – Sir Guy de Gisbourne
Claude Rains – Principe John
Patrick Knowles – Will Scarlett
Eugene Pallete – Frei Tuck
Alan Hale – O Pequeno John
Melville Cooper – Xerife de
Nottinghan
Ian Hunter – Ricardo Coração de Leão
Uma O’ Connor – Bess
Herbert Mundin – Much
Montagu Love – Bispo das Canoas
Negras
Leonard Willei – Sir Essex
Robert Noble – Sir Ralf
Collin Kenny – Sir Baldwin
Lester Matthews – Sir Ivor
Nenhum comentário:
Postar um comentário