Divulgação do Cine Rádio (Paulo Telles) |
Um magnífico estudo acurado sobre a natureza perversa do ser humano. Orson Welles (1915-1985) realiza de forma inteligente uma palestra em seus 106 minutos de projeção (versão remontada) na obra A Marca da Maldade (Touch of Evil) de 1958. Atuando também como ator no papel de Hank Quinlan, um policial pungente e corrupto que ele interpreta de forma soberba, traduz um resumo de tudo que o cineasta pretendia sugerir ao espectador, especialmente em relação às incoerências, hipocrisias e contradições que envolvem a natureza humana. Também assinala o retorno de Welles a Hollywood após nove anos de ausência. A fita teve cenas acrescentadas e montagem adulterada pela Universal à revelia do diretor.
Charlton Heston e Janet Leigh, os astros originais, reencontraram-se para o lançamento da edição comemorativa de 40 anos de A MARCA DA MALDADE. |
Heston e Janet Leigh em A MARCA DA MALDADE (1958) |
Em 1998, foi realizada uma remontagem segundo as intenções do cineasta e deixadas para Rebecca Welles (1944-2004), herdeira e filha do diretor. Charlton Heston (1923-2008) e Janet Leigh (1927-2004), os astros principais, estiveram presentes na cerimônia pela ocasião dos 40 anos do lançamento do filme. Foi o próprio Heston quem sugeriu a Universal Pictures para que Welles assumisse a direção (anteriormente Welles só atuaria como ator). O estúdio teve medo, mas Welles cumpriu o contrato e realizou a obra no tempo certo dentro do orçamento estabelecido. Mas mesmo assim, a Universal mexeu na montagem final.
Orson Welles dirige uma das maiores obras primas da Sétima Arte: A MARCA DA MALDADE (1958). |
Orson Welles, além de dirigir, é um dos atores centrais, antagonizando com o astro Charlton Heston. |
Welles tinha apenas 41 anos quando desempenhou o papel do velho e obeso policial Hank Quillan, usando uma maquiagem bem pesada. Ainda assim, A Marca da Maldade se impôs como uma de suas obras mais impactantes, cujo impacto técnico estarrecedor se revela com rara volúpia criativa em seus efeitos de câmera, som e edição (segundo o finado crítico de cinema carioca Paulo Perdigão). Baseado no livro Badge of Evil, de Whit Masterson (1920-2012), Welles compôs o script juntamente com o autor do romance.
Charlton Heston é o detetive mexicano Ramon "Mike" Vargas, que se depara com a corrupção da policia regional. |
Welles interpreta o Capitão Hank Quinlan, um corrupto policial que se envolve com o traficante "Tio" Grandi, vivido pelo lendário e talentoso Akim Tamiroff. |
Numa cidade da fronteira do México – Estado Unidos, o investigador mexicano Ramon Miguel Vargas (Charlton Heston) interrompe sua lua de mel com Susan (Janet Leigh) para apurar um crime. O casal então é perseguido por traficantes chefiados por “tio” Joe Grandi (Akim Tamiroff, 1899-1972). Ramon acaba entrando em conflito com o veterano policial Hank Quinlan (Orson Welles), capitão da polícia local, corrupto e psicopata, com registros de perfeitas prisões. Vargas suspeita que Quinlan plantasse provas falsas para efetuar suas prisões. Determinado a manter o honesto e incorruptível investigador mexicano fora do seu caminho, ele faz um acordo com “tio” Grandi para incriminar a esposa de Vargas, Susan (Janet Leigh), que é mantida num quarto de motel, abandonada e dopada, acusada de assassinato numa das sequencias mais angustiantes do filme.
Janet Leigh vive Susan, a esposa norte-americana de Vargas, que logo se vê em sérios perigos... |
... sofrendo represálias dos arruaceiros e delinquentes protegidos pelo "Tio" Grandi. |
Idealizado pelo cineasta mais criativo já conhecido, A Marca da Maldade é uma obra maravilhosa que nenhum amante do cinema deve perder – de acordo com o Chicago Tribune.
Não demora e Vargas percebe a real intenção de Quinlan em incriminar um inocente. |
Susan, a devotada esposa de Vargas |
Em primeiro plano, o filme parece seguir algumas características dos policiais produzidos nos anos de 1940 pela RKO, como fotografia com ampla definição de claro e escuro feita pelo especialista Russel Metty (1906-1978), um crime como ponto de partida no desenrolar da trama e as investigações que se desenvolvem acerca delas, bem como os ambientes decadentes e imundos, imoralidade e corrupção, e cenas preferencialmente noturnas que permeiam toda a composição estética da obra.
Ramon "Mike" Vargas e sua esposa Susan |
Vargas X Quinlan: O policial honesto contra o policial corrupto. |
A trilha sonora de Henry Mancini (1924-1994) tem papel fundamental na trama uma vez que ela molda as cenas de forma ativa, atuando como uma importante ferramenta de continuidade que claramente situa o espectador. A Marca da Maldade sem dúvida tem diálogo inovador para o público da época do lançamento, considerada até então um tabu para o cinema norte-americano, com o Código Hays* perdendo sua eficácia. Vemos palavras como baseado, picada, viagem, entre outras que fazem parte do vocabulário no mundo dos entorpecentes.
Marlene Dietrich em participação especial como Tanya, uma ex-amante de Quinlan. |
A Marca da Maldade é valorizada também pelo restante do seu cast, e muitos deles em aparições cameo. Joseph Calleia (1897-1975) tem destaque fundamental como um policial igualmente corrupto que vive a proteger o vilão Quinlan. Notável as breves aparições de Zsa Zsa Gabor (1917-2016), Joseph Cotten (1905-1994) e da talentosa Mercedes McCambridge (1916-2004), como uma lésbica pertencente à gang de Grandt. Mas é Marlene Dietrich (1901-1992) que fecha com chave de ouro este grande espetáculo, no papel de Tanya, uma mulher de cabaré e antiga paixão de Quinlan.
Orson Welles em notável atuação! |
Orson Welles em seus momentos marcantes como ator em A MARCA DA MALDADE (1958) |
Muito embora tenha sido produzido com baixo orçamento, o filme de Welles eleva-se a um requinte de produção Classe A, tornando-se uma das fitas mais assistidas e analisadas nos últimos cinquenta anos por estudantes de cinema, cineastas e críticos modernos, com temática pertinente ainda em nossos dias (como a corrupção nos meios policiais), o que faz de A Marca da Maldade uma obra atemporal.
* O Código Hays foi um conjunto de normas morais aplicadas aos filmes lançados nos Estados Unidos entre 1930 e 1968 pelos grandes estúdios cinematográficos. Seu nome deriva de William H. Hays (1879-1954), advogado e político presbiteriano e presidente da Associação de Produtores e Distribuidores de Filmes da América de 1922 a 1945. Entretanto, já na primeira metade dos anos de 1950, o código já vinha perdendo força. Alguns cineastas e produtores estavam aptos a rompê-lo. A partir de 1968, o código deixou de existir, dando lugar ao sistema de classificação indicativa, que perpetua até hoje.
Poster Alemão |
Título original:
Touch of Evil
Ano: 1958
País: Estados Unidos
Gênero: Policial-Noir
Direção: Orson Welles
Produção: Albert
Zugsmith, em produção e distribuição da Universal.
Roteiro: Orson Welles
e Whit Masterson, com base no livro Badge
of Evil, de Whit Masterson.
Fotografia: Russel
Metty, em Preto & Branco.
Montagem: Aaron Stell
e Walter Murch (para reedição de 1998).
Música: Henry Mancini
Metragem: 95 minutos
Poster Original |
Charlton Heston –Ramon
Miguel “Mike” Vargas
Janet Leigh – Susan
Vargas
Orson Welles –
Capitão Policial Hank Quinlan
Joseph Calleia –
Sargento Policial Peter Menzies
Akim Tamiroff - ‘Tio’ Joe Grandi
Joanna Moore – Marcia
Linneker
Ray Collins –
Promotor Adair
Dennis Weaver – Dono
do Hotel
Valentim de Vargas –
Pancho
Mort Mills – Inspetor
Al Schwartz
Phil Harvey – Blaine
Joi Lansing – Zita
Harry Shannon – Chef Cloud
PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS
Marlene Dietrich –
Tanya
Zsa Zsa Gabor – Dona do
Clube de Strip-Tease
Joseph Cotten (Sem
Crédito)
Eva Gabor (Sem Crédito)
Não assisti A marca da maldade, mas gostaria e tenho interesse de ver a esse filme. Com tão grandioso elenco e direção assim com a crítica desperta em mim esse desejo. Não lembro o meu irmão, Jurandir Bernardes de Lima(Faroeste), ter falado sobre essa fita, mas é claro que tem muitos filmes que ele não falou. Vou procurar uma forma de assití-lo.
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