As Sete Caras do Dr. Lao (7 Faces of Dr. Lao, 1964) é um filme simplicista, mas de entendimento individual (mais filosófico do que moral), de como o ser humano poderia conhecer a si próprio apesar de todas as dificuldades de se discernir. Afinal, em vez de milagres, que exigem fé e sentimento, algo tão escasso nos nossos dias, na resenha aqui em apresentação se observa a humanidade e seus erros clamando por um benfeitor homem de circo. Como? Sim, e pelo visto não é qualquer homem de circo. O circo nada mais é do que a vida e o mundo em que vivemos, sendo todos nós artistas, trapezistas, malabaristas, palhaços, num show de obstáculos que estão sempre a nos desafiar no cotidiano da existência.
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O Diretor George Pal (1908-1980) |
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George Pal ao lado do "Abominável Homem das Neves" |
Este Homem de Circo precisa ser indispensavelmente, um sábio, filósofo, e de preferência, chinês. E mais ainda: ele precisa ser um mágico capaz do impossível. Entretanto, se deduz que o mundo prosseguirá do mesmo curso, mesmo tendo um mágico com todas estas qualificações, porque não existem mágicos capazes de transformar “temíveis tubarões em angelicais sardinhas”. Mas a magia do cinema é capaz desta façanha, e somente a Sétima Arte para ter este poder de execução. As Sete Caras do Dr. Lao (nos cinemas brasileiros foi
exibido em fevereiro de 1965 com o título As Sete
Faces do Dr. Lao – “caras” é título em exibição na TV) foi o último filme
dirigido por George Pal (1908-1980), produtor de diversos espetáculos
sustentados por recursos de animação e trucagem. Pal ainda recebeu o Oscar de
melhores efeitos especiais por Destino à
lua/1950, O Fim do Mundo/1951, Guerra dos Mundos/1953, O Pequeno Polegar/1958, e A Maquina do Tempo/1960.
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O estranho e místico chinês Dr. Lao (Tony Randall) chega a um vilarejo do Velho Oeste. |
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Dr. Lao e seu circo de atrações. |
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O misterioso Dr. Lao pede a um jornal para divulgar seu circo |
Nossa história começa no fim do século XIX, num vilarejo do Velho Oeste, Abalone, no Arizona, dominado por um poderoso latifundiário, Clint Stark (Arthur O’ Connell, 1908-1981). Chega a este vilarejo um estranho oriental, o misterioso e místico Dr. Lao (Tony Randall, 1920-2004), que ali passa a apresentar seu circo ambulante – um bizarro espetáculo com criaturas mitológicas, como o mago Merlin, a Medusa, o cego vidente Apolônio de Tiana, Pan- o Deus da Alegria, uma Serpente Gigante que visa refletir as imperfeições das pessoas, e claro, o Abominável Homem das Neves (todos eles interpretados de modo magnífico por Randall, sendo que o ator impressiona mais como Apolônio).
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O inescrupuloso latifundiário Clint Stark (Arthur O' Connell) |
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O editor do jornal do vilarejo, Ed Cunninghan (John Ericson), inimigo de Clint Stark. |
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Clint Stark (Arthur O' Connell) em "caloroso" debate com Ed Cunningham (John Ericson) |
Dr. Lao acaba usando seus personagens para mudar a vida das pessoas, fazendo com que vejam a verdade e com que enxerguem melhor seus problemas, induzindo cada morador do vilarejo a melhor conhecer a si mesmo. Pan e sua flauta mágica hipnotizam a bibliotecária viúva Angela Benedict (Barbara Eden) fazendo com que ela descubra o valor do amor e desperte seus desejos escondidos pelo homem que ama, o jornalista Ed Cunningham (o já falecido John Ericson, que também personifica Pan nos delírios de Angela). Aliás, é Cunningham, editor de um pequeno jornal local, o único com coragem para desafiar a prepotência de Stark e de seus ridículos capangas, Carey (Royal Dano, 1922-1994) e Lucas (John Doucette, 1921-1994), porque o latifundiário, por modos escusos, quer vender a pequena Abalone para instalar uma estrada de ferro, enquanto a terra é barata.
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A bibliotecária Angela (Barbara Eden) seduzida pelo deus Pan (na caracterização de John Ericson). |
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Angela Benedict (Barbara Eden) deixando soltar seus desejos reprimidos. |
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O Deus da Alegria Pan, uma das "Sete faces do Dr. Lao", na caracterização de Tony Randall |
A Medusa testa a incredulidade da Senhora Kate Lindquist (Minerva Urecal, 1894-1966) que insiste em não olhá-la pelo espelho e acaba se transformando em pedra; com a Serpente, Dr. Lao toca em verdades secretas demais para o vilão Clint Stark , que se acha poderoso e intocável. O adivinho Apolônio toca na parte mais triste da solteirona fútil Howard Cassin (Lee Patrick, 1902-1981). Entretanto, nada mais é impressionante do que a amizade que nutre entre o menino Mike Benedict (Kevin Tate), filho de Angela, e o misterioso sábio oriental, que confessa a ele que tem 7.322 anos.
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Dr. Lao (Tony Randall) faz amizade com o menino Mike (Kevin Tate) |
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Dr. Lao começa a espalhar cartazes pela pequena cidade anunciando o seu circo. |
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Tony Randall como Apolônio de Tiana, uma das "Sete caras do Dr. Lao", e uma das mais expressivas das sete caracterizações do ator. |
Mike se deixa fascinar pelas mágicas de Merlin, o famoso mago da côrte do Rei Arthur, mesmo que ele algumas vezes falhe em seus números. Não demora e o menino quer também fazer parte do espetáculo. Chega até mesmo a fazer perante o misterioso chinês alguns truques e malabarismos, mas em vez de aceitar Mike, Dr. Lao oferece conselhos e observações sobre o mundo. O garoto não entende as palavras de sabedoria do mágico chinês, e este acaba afirmando que também não. É daí que parte uma das citações mais memoráveis da fita, quando Dr. Lao explica para Mike que o mundo já é um circo:
"O mundo todo é um circo. Quando olhamos para um punhado de areia e vemos mais do que areia, vemos um mistério, o circo do Dr. Lao estará lá."
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O Dr. Lao abre o seu circo para o público. |
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Dr. Lao, apesar de simpático, também conquista inimigos,como os capangas de Clint Stark: os ridículos Carey (Royal Dano) e Lucas (John Doucette)
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Tony Randall, no meio da plateia, como ele mesmo. |
Todas as “sete caras” são empregadas de acordo com o desarranjo moral de cada habitante do vilarejo. Abalone é uma cidade pequena, mas capaz de comportar todos os tipos de “males espirituais” representativos do lado cínico e hipócrita da humanidade. Com seus dedos mágicos, o fascinante Dr. Lao, talvez numa alusão a Cristo, de maneira que sobrenatural vai colocando amor onde faz falta, altruísmo onde existem ganância, e esperança onde não existe fé. Seria sem dúvida um santo a maneira como bem entendemos, se não fosse um velho mágico chinês de sete milênios.
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A MEDUSA - Uma das atrações do circo, na caracterização de Tony Randall |
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A SERPENTE GIGANTE: Nas feições de Arthur O' Connel, mas dublada por Tony Randall. |
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O MAGO MERLIN - Uma das grandes atrações do circo direto da Côrte do Rei Arthur, na interpretação de Tony Randall).
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Baseado no romance O Circo do Dr. Lao (The Circus of Dr. Lao), de autoria de Charles G. Finney (1905-1984) e publicado em 1935, As Sete Caras do Dr. Lao tem o roteiro de Charles Beaumont (1929-1967), tendo ainda a colaboração (não creditada) de Ben Hecht (1894-1964). A trilha foi composta por Leigh Harline (1907–1969). As Sete Caras do Dr. Lao ainda conquistou um Oscar especial pelo primoroso trabalho de maquiagem de William Tuttle (1912-2007). Vale ainda destacar a fotografia de Robert J. Bronner (1907–1969).
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O maquiador William Tuttle trabalhando na maquiagem de Randall, postos a entrar em cena para ser Pan.
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As Sete Faces de Tony Randall |
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O Fabuloso e mágico Dr. Lao. |
A preocupação da historia é mostrar que o ser humano às vezes pode ter suas percepções meio distorcidas, podendo estar preparados para acreditar em criaturas bizarras, mas são incapazes de ver e sentir os bons valores que fazem de uma sociedade ordeira e equilibrada, seja pelos costumes e cultura, o que nenhum dinheiro paga. Afinal, um enredo onde predominam poesia, puerilidade, mitologia, filosofia, fantasia, e até pitada de faroeste, se levar em conta que a trama se passa em um vilarejo do Velho Oeste e todos estão caracterizados ao estilo. Este é o fantástico circo do Dr. Lao.
“O Circo do Dr. Lao é a própria vida, e tudo nele é uma maravilha”.
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Divulgação da estreia do filme em um jornal carioca, em fevereiro de 1965.
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AS
SETE CARAS DO DR. LAO
(7 Faces of Dr. Lao)
País – Estados Unidos
Ano – 1964
Gênero – Infantil – Fantasia
Direção – George Pal
Produção – George Pal, para a Metro Goldwyn Mayer (produção e
distribuição)
Roteiro – Charles Beaumont, com base
no livro de Charles G. Finney
Música – Leigh Harline
Fotografia – Robert J. Bronner, em
cores
Metragem – 100 minutos
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“O Circo do Dr. Lao é a própria vida, e tudo nele é uma maravilha”. |
ELENCO
Tony Randall – Dr. Lao – Medusa –
Abominável Homem das Neves – Merlin, o mágico – Apolônio de Tiana – Pan – A Serpente
Gigante (a voz)
Barbara Eden – Angela Benedict
Arthur O’ Connell – Clint Stark
John Ericson – Ed Cunningham
Noah Berry Jr – Tim Mitchell
Lee Patrick – Senhora Howard Cassin
Minerva Urecal – Kate Lindquist
John Qualen – Luther Lindquist
Royal Dano – Carey
John Doucette – Lucas
Peggy Rea – Senhora Peter Ramsey
Argentina Brunetti – Sarah Benedict
Kevin Tate – Mike Benedict
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