Em 1992, ano em que foi
realizado OS IMPERDOÁVEIS (Unforgiven), produzido, dirigido, e estrelado por
Clint Eastwood, o gênero Western já estava praticamente extinto. O estilo declinava desde o fim da década de 1970, e muito embora na
metade da década de 1980 viessem sucessos como Silverado (Silverado, 1985) de Lawrence Kasdan, e O Cavaleiro Solitário (Pale Rider, 1985), também de Clint
Eastwood, ainda assim o gênero não conseguia mais atrair o público como foi em outros tempos.
Clint Eastwood - Ator e Cineasta. |
Entretanto, é curioso
como deu origem à produção de Os
Imperdoáveis, que parecia em 1992 um projeto altamente arriscado, mesmo
para um ator e cineasta experiente como Clint Eastwood. Tudo começou na
realidade em 1980, quando Clint comprou o roteiro de David Webb Peoples das
mãos de Francis Ford Coppola. Coppola estava seduzido pelo script de Webb Peoples, mas desistiu de filmar, acabando por vender
a Clint Eastwood. Entretanto, Clint viu que
algo poderia não dar certo. Aos 53 anos, em 1983, já detentor dos
direitos de filmagem, Clint se achou “jovem e imaturo demais” para prosseguir
com o projeto. Por isso, o ator-cineasta arquivou o texto na gaveta por quase dez
anos.
Em 1992, Clint, aos
62 anos, achou que já era hora de rodar Os Imperdoáveis, acreditando que havia amadurecido o suficiente para
seguir adiante com a produção. O diretor escolheu as vizinhanças de Calgary, na
província de Alberta, no Canadá, para rodar seu Western. Clint sabia que a
região de terreno íngreme e desigual se assemelhava ao seu “Oeste Americano dos
fins do século XIX”. Contudo, mais do que
um faroeste, o filme representou uma volta, em grande estilo, ao gênero. Vale lembrar que a trajetória
deste carismático artista se deveu a uma grande transição de fatores, pois foi
conquistando respeitabilidade à base de pólvora e músculos, mas na medida em
que foi envelhecendo, também pelo cérebro e sensibilidade.
O saudoso Richard Harris, com Saul Rubinek, conversando com Clint Eastwood. |
Clint, o "Bom, Mal, e Feio" no cinema. |
Clint na direção de OS IMPERDOÁVEIS (1992)
Revelado
pelo grande público durante os oito anos em que atuou na TV na série Couro Cru (Rawhide, 1958-1965), Clint
carregou desde então a imagem do Cowboy por excelência. Seja na trilogia de
Sergio Leone (Três Homens em Conflito,
Por Um Punhado de Dólares, Por uns Dólares a Mais), seja no clássico Josey Wales, o Fora da Lei (The Outlaw Josey Wales, 1976) em que ele
se autodirigiu, ou mesmo como o policial Dirty Harry em cinco produções da série,
o ator e diretor nunca se afastou da imagem de bruto, porém justo, ou ainda, O
Bom, o Mal, e o Feio, fazendo alusão a um dos grandes westerns italianos
que atuou sob a direção de Leone. Entretanto, ao provar somente atrás das
câmeras seu talento como diretor na biografia do célebre músico Charlie Parker
(1920-1955) em Bird, de 1988, é que o
durão Clint também provou lidar com temas sensíveis.
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Clint Eastwood é William Munny... |
viúvo, e com dois filhos. A miséria faz Munny voltar a empunhar armas. |
Ned Logan (Morgan Freeman): O melhor amigo de William Munny. |
Bill Munny (Clint Eastwood), pronto para voltar a ativa. |
Morgan Freeman é Ned Logan. |
Ned e Munny partindo para a ação. |
O trio composto por Kid, Ned, e Munny, chegam ao pequeno vilarejo... |
cujo xerife é o hipócrita Little Bill Daggett (Gene Hackman) |
Deliah (Anna Levine), a prostituta mutilada. |
Richard Harris é Bob English... |
que chega a Big Whiskey com seu "biógrafo"... |
e se recusa a entregar suas armas. |
Little Bill, o xerife de ferro, mas sem lei e sem ordem, motivado pelos seus interesses brutais. |
As mulheres do prostíbulo que querem justiça, lideradas por Strawberry Alice (Frances Fisher). |
Mas contra os cowboys
e a bem armada equipe do xerife, Munny conta apenas com a ajuda de seus dois
parceiros e das mulheres do prostíbulo, lideradas por Strawberry Alice (Frances
Fisher, na época, esposa de Clint Eastwood). Perto do confronto sangrento, os
companheiros de Munny hesitam. Violentando sua nova concepção de vida, William
Munny precisa enfrentar seus adversários como um verdadeiro “anjo exterminador”
como fora no passado. Os Imperdoáveis é
uma história onde não há inocentes à vista, nem heróis ou mocinhos, mas sim onde os mitos não conseguem resistir ao
clima da realidade, e muito menos, a ausência da legenda romântica.
Divulgação |
Ned Logan (Morgan Freeman), torturado e morto por Little Bill (Gene Hackman) |
A obra foi dedicada
pelo diretor a seus dois grandes mentores, Sergio Leone e Don Siegel, "professores" do ator na arte da direção. Clint
Eastwood deixou declarado:
- Se tivesse que ser meu último Western, acho que seria uma despedida
muito apropriada.
Falar de Os Imperdoáveis é também falar da
atuação de Gene Hackman, que aos 62 anos e ter participado de centenas de
filmes e peças teatrais, recebeu do amigo Clint Eastwood um papel que lhe deu o
Oscar de melhor ator coadjuvante de 1993. Sua atuação como o xerife psicótico
Little Bill Daggett, um pretenso guardião da moral e dos bons costumes do
pequeno vilarejo de Big Whiskey, que defende mais seus propósitos
brutais do que a lei que deveria servir.
Divulgação |
Munny, em um dialogo com Deliah. |
Inocente de que? Indaga o xerife vivido por Gene Hackman a uma das
prostitutas quando reclama do espancamento de um “homem inocente” (Clint
Eastwood). Segundo o crítico Arthur Dapieve, que deu uma brilhante nota ao seu
comentário no jornal O Globo, de 27
de novembro de 1992, ninguém é inocente em Os
Imperdoáveis.
- Todos são culpados e estão condenados, mais cedo ou mais tarde, a pena de morte. Qualquer semelhança com a vida real não é mera coincidência. Sem dúvida, Clint Eastwood deu ao faroeste filosófico um de seus melhores exemplares.
- Todos são culpados e estão condenados, mais cedo ou mais tarde, a pena de morte. Qualquer semelhança com a vida real não é mera coincidência. Sem dúvida, Clint Eastwood deu ao faroeste filosófico um de seus melhores exemplares.
Divulgação |
O fim de Little Bill. |
Ely Azeredo, na mesma
coluna e no mesmo jornal, deixou seu parecer:
- Este filme poderia ser a “chave de ouro” de muitas filmografias
ilustres. Sem deixar de encantar como espetáculo, é uma reflexão sobre o
Western e sua moral. Ultrapassa os limites da “trama”, instigando reflexões de
ordem existencial. A dor moral de sua volta às armas é apenas atenuada pela
“meia razão” de resgatar a humilhação do amigo torturado (Morgan Freeman). O final só é “feliz” na aparência. Se o amor
redimiu Munny, a compaixão e a amizade o levaram de novo para o inferno.
Crítica e autocrítica: a mídia (reprsentada pelo escritor mambembe) não
enxergou o grande artista por trás da máscara circunstancial de Dirty Harry.
Divulgação |
A crítica Miriam
Alencar no mesmo tabloide nacional, comentou sobre Os Imperdoáveis:
- Em OS IMPERDOÁVEIS, Clint Eastwood conseguiu juntar um tema com as
características clássicas que deram ao Western um lugar de honra na história do
cinema. Defende a mulher, pela justiça que deve ser feita à prostituta, cujo
rosto foi deformado, e rejeita violentamente o racismo na defesa de seu velho
companheiro na luta, Ned Loogan (Morgan Freeman). Não contente com isso, relembra através do duelo final, no bar, um
também derradeiro e brilhante duelo
dirigido por Don Siegel, O ÚLTIMO PISTOLEIRO, despedida do maior dos cowboys,
seu ídolo confesso, John Wayne.
4 PRÊMIOS DA
ACADEMIA
Clint Eastwood, com seus dois Oscars: Melhor filme e melhor direção. |
Há quem dissesse que a 65ª entrega do Oscar da Academia de
Artes e Ciências Cinematográficas, na noite de 29 de março de 1993, em Los
Angeles, teve barbadas, mas nenhuma goleada. O veterano Gene Hackman já havia subido ao
pódio para receber o prêmio como melhor ator coadjuvante, e dedicou o prêmio a
um tio, Orin Hackman, jornalista que havia falecido horas antes da
cerimônia. Hackman declarou:
- Mas eu não vou
continuar fazendo tantos filmes assim daqui pra frente. Vou dar uma freada. – emendou Hackman, fazendo um paralelo
entre a morte de seu tio e sua própria saúde, que na época de Os Imperdoáveis, estava fragilizada por
problemas cardíacos. O ator hoje conta com 87 anos e desde 2004 está aposentado.
Clint e Gene Hackman: Campeões da Noite. |
Clint Eastwood provou ser realmente um gigante na noite do
Oscar. Na saída da sala de imprensa foi cumprimentado por Al Pacino, que
ofereceu um belo contraste à Clint, já que de tão baixinho, Pacino nem chega
aos ombros do ator e diretor que vinha com seus dois prêmios , e cedeu-lhe a vez no
pódio. Clint, ao verificar que a altura do pedestal do microfone ainda estava
ajustado para Al Pacino, fez uma brincadeira, abaixando desajeitado para falar.
Clint Eastwood, entre Jack Nicholson e Barbra Streisand, na entrega do Oscar de 1993. |
Um repórter perguntou a Clint se não havia um “gostinho
de vingança” na vitória de Os
Imperdoáveis, já que a Academia de Cinema sempre o esnobara. Eastwood respondeu:
- É muito fácil
considerar menores os filmes que fiz no início de minha carreira. Talvez porque
eles fossem de fato menores. Eu era jovem e estava aprendendo, buscando. Acho
que mudei através dos anos.
Divulgação |
Clint ainda explicou que foi melhor receber o Oscar naquele
momento:
- Se tivesse ganhado
antes, talvez não fosse maduro o bastante para apreciar o prêmio.
OS IMPERDOÁVEIS ganhou quatro Oscars: Melhor Filme, Melhor Direção (Clint Eastwood), Melhor ator Coadjuvante (Gene Hackman) e Melhor Montagem (Joel Cox).
Divulgação do filme nos jornais cariocas, em 1992. |
Ano de
Produção: 1992
País:
Estados Unidos
Gênero: Western
Direção: Clint Eastwood
Produção: Clint Eastwood - Julian Ludwig - David Valdes, para Warner Bross
Roteiro: David
Webb Peoples
Música: Lennie
Niehaus
Fotografia: Jack
N. Green (em cores)
Montagem: Joel Cox
Metragem: 131 minutos.
Divulgação |
CLINT EASTWOOD – WILLIAM “BILL” MUNNY
GENE HACKMAN – LITTLE BILL DAGGETT
MORGAN FREEMAN – NED LOOGAN
RICHARD HARRIS – BOB ENGLISH
JAIMZ WOOLVELT – SCHOFIELD KID
SAUL RUBINEK – W.W BEUCHAMP
FRANCES FISHER – STRAWBERRY ALICE
ANNA LEVINE – DELIAH FITZGERALD, A MULHER MUTILADA
ROB CAMPBELL – DAVEY BUTTING
BEVERLEY ELLIOT – SILKY
E
Walter Marsh- Barber
Frank C. Turner – Fuzzy
Lochlyn Munro - Texas Slim
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