sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

O Dia em que a Terra Parou (1951): A Obra Original e Definitiva do Mestre Robert Wise.


Robert Wise (1914-2005) era um cineasta promissor desde que ficou conhecido como o montador de Cidadão Kane, de Orson Welles, iniciando sua carreira na direção em 1944, mas foi em 1949, com Punhos de Campeão (The Set-Up), considerado o melhor filme sobre a máfia do boxe na história do cinema, e estrelado por Robert Ryan, que Wise conseguiu sua consagração. 

O DIRETOR ROBERT WISE

No currículo deste grande diretor há obras primorosas de admiração pública, como A Noviça Rebelde (The Sound of Music, 1964), Amor sublime Amor (West Side Story, 1961), O Enigma de Andrômeda (The Andromeda  Strain, 1971) e Jornada nas Estrelas, o filme (Star Trek – The Motion Picture, 1979). Portanto, a obra aqui apresentada na matéria não é menos primorosa, pelo contrário, pois de maneira inteligente e de forma utópica, aborda a questão nuclear: O DIA EM QUE A TERRA PAROU (The Day The Earth Stood Still, 1951).


O ator inglês Michael Rennie é o astro de O DIA EM QUE A TERRA PAROU (1951)

Sem sombra de dúvidas, a década de 1950 foi a mais fértil para a ficção científica. Monstros atômicos e invasões interplanetárias refletiam nas telas a paranoia do governo norte-americano com sua fobia de comunismo e sua corrida nuclear armamentista. Mas mesmo assim, em meio a todo este transloucado Marcartismo doente, Wise lança em 1951 esta que é considerada a obra mais importante da Ficção Científica, estampando a defasagem entre as aspirações pacifistas da opinião pública, os riscos do militarismo americano, os riscos na era nuclear, a necessidade do desarmamento atômico e a atmosfera do medo que assolava então os EUA.

Rennie, no papel do alienígena Klaatu, chega a Terra acompanhado de um robô...

Um emissário do espaço chega à Terra num disco voador e aterrissa em Washington. Klaatu (Michael Rennie, 1909-1971), o alienígena recém-chegado, vem com o objetivo de prevenir os habitantes de nosso planeta a pararem de usar armas nucleares, pois isso pode afetar todo o universo. Se os líderes políticos e militares insistirem nisso, as consequências poderão ser as piores possíveis, culminando com a destruição total do nosso planeta.

... o robô gigante GORT.

A Nave de Klaatu aterrissa em campo aberto em Washignton, sede do governo norte americano.

Tão logo desce de sua nave, Klaatu é abatido e levado para um hospital.

Auxiliado por Gort (Lock Martin, 1916-1959), um implacável robô policial programado para desintegrar toda fonte de violência, Klaatu tenta dar seu recado de forma pacífica, mas é alvejado por um tiro e pela histeria coletiva. Levado para um hospital, ele foge e mistura-se a classe média, sendo ajudado por uma viúva de guerra, Helen Benson (Patricia Neal, 1926-2010) e um professor, o físico Jacob Barnhardt (Sam Jaffe, 1891-1984).

A Viúva Helen Benson (Patricia Neal) ajuda Klaatu (Michael Rennie)

O físico Jacob Barnhardt (Sam Jaffe) é um dos que ajudam Klaatu em sua missão de paz. 

A única forma que ele encontra de impressionar o povo da Terra é através de um efeito choque, pois durante meia hora, ele neutraliza a eletricidade no mundo todo. Depois disso, Klaatu é descoberto, perseguido e morto, mas o robô Gort consegue ressuscitá-lo a fim de que possa, finalmente, anunciar a mensagem antibelicista (em verdade, a mensagem que o filme de Wise expressa) para os Povos da Terra.

Klaatu é descoberto e Helen tenta ajuda-lo em sua fuga, mas o alienígena acaba morto pela polícia. 
Helen consegue se comunicar com o robô Gort, que ressuscita Klaatu.
Klaatu aparece com Gort e Helen, para uma última afirmação para com os homens do planeta Terra.

Muito respeitado pelos críticos, O Dia em que a Terra Parou foi não somente um marco na Ficção Científica como também na Sétima Arte. Além disso, foi a primeira vez que um extraterrestre não era apresentado como uma ameaça à vida na Terra, mas sim como um conselheiro pacifista. A fotografia de Leo Tover (1902-1964) procura realçar os contrastes de luz e sombra, como nos filmes do Expressionismo Alemão. Outro ponto culminante são os diálogos, com frases brilhantes de Klaatu, com roteiro infalível dos escritores Harry Bates (1900-1981), que redigiu a história, e de Edmund H. North (1911-1990):

Minha missão não é resolver seus mesquinhos problemas de política internacional. Não falarei com nenhuma nação ou grupo de nações. Não pretendo trazer minha contribuição aos seus ciúmes ou suspeitas infantis”.

Ou ainda, ao responder ao secretário-geral americano, quando este lhe diz que todos os líderes do mundo não se sentariam a mesma mesa:

A Burrice me deixa impaciente. Meu povo aprendeu a viver sem ela”.

DIVULGAÇÃO
Bernard Herrmann, compositor favorito do Mestre Alfred Hitchcock, compôs a trilha sonora. 

O Dia em que a Terra Parou é um clássico que vem a provar que a ficção científica tem muito mais coisas a dizer e a mostrar do que batalhas galácticas ou monstros devastadores.  O filme retrata, sem subterfúgios, o conflito entre a ciência e o militarismo, e como fábula política, funciona como um dos exercícios mais fascinantes já realizados no gênero, com o impactante comentário musical de Bernard Herrmann (1911-1975).

DIVULGAÇÃO

Michael Rennie em um dos mais brilhantes papéis de sua carreira. 

As palavras finais de Klaatu, no seu ultimato aos humanos, são bem mais significativas e devastadoras do que qualquer arma laser intergaláctica. Um clássico que há mais de 70 anos vem demonstrando ao mundo sua durabilidade, o que torna ainda ser bem atual do que na época de seu lançamento, devido a muitos confrontos políticos e sociais ainda bem atuantes. A refilmagem de 2008, dirigida por Scott Derrickson e estrelada por Keanu Reeves, além de ter sido um fracasso de bilheteria, foi um filme reprovável e imperdoável para os fãs da obra original dirigida por Wise. Sorte para o cineasta, que não viveu para tomar conhecimento de tamanha violência a um de seus grandes alicerces, pois falecera três anos antes da produção deste  remake.

Um Genuíno Clássico Absoluto!

Originalmente, o papel de Klaatu seria interpretado pelo não menos notável Claude Rains (1889-1967), mas problemas de agenda deram a oportunidade a Michael Rennie, cujo rosto anguloso e temperamento calmo conferem uma ligeira e suave superioridade ao personagem. Patricia Neal, um símbolo de bravura feminina, resume o que há de melhor entre os seres humanos, com sua empatia, tolerância e compreensão. Um dos destaques a não se desprezar é o robô Gort, que foi interpretado pelo gigante Lock Martin, um porteiro de 2m35cm do Teatro Chinês de Grauman, em Los Angeles.  Sobrecarregado pela roupa pesada, Martin precisou de ajuda para segurar Patrcia Neal nos braços e, em algumas cenas, os cabos que os sustentavam ficam claramente visíveis. Para que a nave parecesse inteiriça, a fenda da porta foi vedada e pintada de prateado. A vedação então veio a se romper, fazendo com que a porta surgisse  de repente, sem qualquer aviso visual. 

A versão de 1951 de O Dia em que a Terra Parou inquestionavelmente jamais foi superada, sendo um clássico absoluto em vários aspectos, não somente por sua mensagem antibélica e efeitos especiais inteligentes (impressionantes para a época!), como também pelo uso marcante que o gênio dos soundtracks Bernard Herrmann utilizou do teremim, o mais antigo instrumento musical eletrônico que se tem notícia. O filme chegou as nossas salas brasileiras em 1953. 

O Remake reprovável de 2008, com Keanu Reeves e Jennifer Connely

Divulgação nos nossos jornais da exibição da obra original de Robert Wise nas salas de cinema do Brasil em 1953.


Ano: 1951. 

País : Estados Unidos

Gênero: Ficção Científica

Direção: Robert Wise.

Produção: Julian Blaustein, em produção e distribuição da 20th Century Fox

Roteiro: Edmund H. North e Harry Bates (história original)

Fotografia : Leo Tover (em Preto & Branco)

Trilha Sonora: Bernard Herrmann

Metragem: 91 minutos



   Michael Rennie - Klaatu/Carpenter

Patricia Neal - Helen Benson

Hugh Marlowe - Tom Stevens

Sam Jaffe - Prof. Jacob Barnhardt

Billy Gray -  Bobby Benson

Frances Bavier - Sra. Barley

Lock Martin -  Gort, o robô

Patrick Aherne – General do Pentágono

John Brown – George Barley

Wheaton Chambers – Mr. Bleeker

Roy Engel – Governador

Harry Lauter – Militar

Carleton Young – Coronel no jipe

Lawrence Dobkin – Médico da Força Aérea

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Um Convidado Bem Trapalhão (1968): Blake Edwards faz Peter Sellers promover uma festa de arromba!

UM CONVIDADO BEM TRAPALHÃO ( The Party ) , produzido em 1968, é considerada a comédia mais hilariante do eterno Peter Sellers (1925-19...