sábado, 1 de julho de 2023

Os Canhões de Navarone (1961): Uma Missão Suicida e Quase Impossível, em Fita de Aventura Bélica Dirigida Pelo Injustiçado J. Lee Thompson.

Divulgação

Em 1943, os nazistas ocuparam a Ilha de Navarone, localizado no Mar Egeu, com o intuito de bloquear as forças inglesas infiltradas em Kheros, perto da Turquia. Na Ilha de Navarone, foi instalado, em alto penhasco, dois potentes canhões para destruir os navios aliados. Sob o comando do Major inglês Roy “Lucky” Franklin (Anthony Quayle, 1913-1989), forma-se uma unidade de sabotagem encarregada de penetrar na ilha e arrasar a fortaleza inimiga. 

Gregory Peck é o Capitão Keith Mallory, um ex- alpinista.
Peck como Mallory, e seus colegas Brown (Stanley Baker) e Miller (David Niven)

Anthony Quinn como Andrea Starvos, membro da Resistência Grega, ótimo matador.
Além do inglês Franklin, participam da arriscada missão o ex-alpinista americano, Capitão Keith Mallory (Gregory Peck, 1916-2003); um membro da Resistência Grega, Andrea Starvos (Anthony Quinn, 1915-2001); um especialista em explosivos, o cabo inglês Miller (David Niven, 1910-1983); o telegrafista e atirador de elite Brown (Stanley Baker, 1928-1977); e um jovem grego perito em matar, o soldado Spyros Pappadimos (James Darren, o Tony Newman da série de TV O Túnel do Tempo). Ao longo do caminho, juntam-se ao grupo, Maria Pappadimos (Irene Pappas, 1929-2022), irmã mais velha do soldado Spyros, e Anna (Gia Scala, 1934-1972), uma jovem grega torturada pelos nazistas.  Quando o major Franklin é ferido, o capitão Mallory assume o comando, surgindo tensões entre este e o cabo Miller, especialmente quando tomam conhecimento de que há um traidor entre eles.

Stanley Baker é Brown, telegrafista do grupo e matador de elite.
James Darren é o soldado Spyrus Pappadimus, um perito em matar.
Irene Pappas é Maria Pappadimus, que pertence a Resistência Grega.
Assim inicia a energética aventura de OS CANHÕES DE NAVARONE (The Guns of Navarone, 1961), uma das mais populares ações de guerra já realizadas para o cinema, com merecidos 13 milhões de dólares arrecadados só no mercado norte-americano desde sua estreia, em 1961. Os Canhões de Navarone mostra o cotidiano de um grupo de seis oficiais e soldados aliados que recebem uma missão tida por todos como impossível e suicida: chegar a ilha grega de Navarone dominada pelos nazistas, e destruir os poderosíssimos, moderníssimos, gigantescos canhões que dominam toda uma área do Mar Egeu e não permitem a passagem por ali dos navios aliados. O Comando tem prazo curtíssimo para executar a tarefa: dentro de seis dias, os nazistas invadirão outra ilha da região onde há dois mil soldados ingleses; para que eles possam ser retirados de lá dentro do prazo, Os Canhões de Navarone terão que ser destruídos antes do sexto dia.

O Produtor e Roteirista Carl Foreman, dialogando com o diretor J. Lee Thompson e o ator David Niven. 
Brown (Stanley Baker), Spyrus (James Darren) e Miller (David Niven)
Anna (Gia Scala), que pertence a Resistência, sentada à mesa com Spyrus (James Darren), Miller (David Niven) e Mallory (Gregory Peck)
Escrito e produzido por Carl Foreman (1914-1984), o célebre roteirista de Matar ou Morrer (1952) e A Ponte do Rio Kwai (1957), o espetáculo dirigido por J. Lee Thompson (1914-2002) foi rodado nas locações da Ilha de Rhodes, na Grécia, concorrendo para o Oscar (inclusive de melhor filme), mas acabou arrebatando a estatueta de melhores efeitos especiais. Em realidade, uma premiação muito justa, tendo em vista a estrepitosa galeria de cenas de combate e explosões (efeitos, para sua época, muito impressionantes). Mas para isso, foram necessários dois anos de filmagem para levar para as telas o magnífico Best Seller (publicado em 1957) do consagrado Alistair MacLean (1922-1987), o mesmo autor de O Desafio das Águias e Estação Polar Zebra, dois de seus romances que também viraram filmes. MacLean ainda daria uma sequencia literária para a saga de Navarone, Comando 10 de Navarone (Force 10 to Navarone), publicado em 1968 e que somente dez anos depois seria trasladado para o cinema, sob a direção de Guy Hamilton, com Robert Shaw no papel de Mallory e Harrison Ford como Barnsby.

Anthony Quinn em um show de interpretação, como Andrea Starvos, prestes a dar um bote contra os nazistas.
O Cabo Miller (David Niven), o Capitão Mallory (Gregory Peck) e o aventureiro grego Andrea Starvos (Anthony Quinn): Uma missão suicida. 
Os aventureiros sabotadores, com a missão de destruir OS CANHÕES DE NAVARONE (1961)
O elogio maior que se pode e deve fazer para OS CANHÕES DE NAVARONE é o espectador não sentir sua longa projeção (155 minutos), onde acompanha com atenção e interesse todo o desenvolvimento da trama. Por natureza, pode ocorrer como em tantas obras primas do cinema, algum tipo de deficiência em sua realização, o que não impede que ele constitua num entretenimento válido para aqueles que apreciam as dramáticas aventuras sobre a II Guerra Mundial. Narrando uma história que em realidade acaba cedendo à ficção, esta é suplantada com frequência inverossímil e fantasiosa, fazendo com que o espectador aceite o comportamento dos personagens como eles são narrados e apresentados para o agrado do público. 
Os canhões que precisam ser destruídos.
O Cabo Miller (David Niven) descobre um traidor no grupo. Quem será?
Com a missão cumprida, Mallory (Peck) e Miller (Niven), enfim, resgatados no mar.
Tudo porque os efeitos especiais que causaram tanta sensação em sua época hoje estão óbvios e obsoletos. Fica difícil o público de hoje não achar meio ridícula as cenas com miniaturas, com efeitos artificiais, cenas pintadas que eram colocadas em cima de outras, realmente fotografadas, e alguns cenários obviamente feitos em estúdio. Por outro lado, grandes estruturas como o próprio canhão tiveram que ser realmente construídas, que se realizados hoje, seriam feitos por meio de computação digital. Algumas cenas foram realmente perigosas, como a tempestade no mar, que foi feita em estúdio, mas as ondas eram tão fortes que David Niven quase morreu afogado, ou feitas em locação, como a escalada do penhasco, realizada em parte por estúdio e em locação. O curioso é que não chovia quando rodaram. A chuva foi colocada depois com uso de truques.

O grupo chega à Grécia.
Jensen (James Robertson Justice), representante do Governo Britânico, o Major Franklin (Anthony Quayle), comandante oficial da missão, e Mallory (Gregory Peck). James Robertson Justice também foi o responsável pela narração inicial.
Os Canhões de Navarone, um espetacular filme bélico!
Contudo, apesar de ser uma história fascinante, não se trata de um evento real. Não existe a Ilha de Navarone, nem a história é baseada em fatos verossímeis, mas sim de um dado real. A Inglaterra realmente trabalhou com pequenos comandos, grupos treinados para missões especificas, realmente houve uma resistência grega formada por guerrilheiros, mas eram divididos entre os comunistas e os de Direita, que nunca se entenderam. A Grécia antes da Guerra era uma ditadura, até a Itália resolver invadi-la. Foi apenas vagamente inspirado numa batalha famosa que foi a de Leros. Mas, de resto, é ficção. É a primeira das grandes aventuras bélicas com elenco internacional. Carl Foreman, pela sua própria formação, não era capaz de escrever uma mera aventura sem trazer uma mensagem, uma moral. Na época de seu lançamento, foi criticado por apresentar recados contra a guerra (que curiosamente hoje mantém o filme atual e superior a outros). Fala da futilidade da guerra, de como os dois lados sempre perdem, discute a necessidade ou validade dos delatores e a traição (um tema importante para Foreman, já que ele foi delatado como comunista nos inquéritos do governo durante a época do Caça às Bruxas). O que poucos percebem, entretanto, é a pretensão do roteiro de ser uma versão moderna da história mitológica de Jasão e os Argonautas (Os Canhões em si equivalentes ao mito do Minotauro), e com toques de Édipo, pretenciosamente chamada de A Lenda de Navarone.

O diretor J. Lee Thompson. Um cineasta injustiçado.
Divulgação

A atriz inglesa de origem italiana Gia Scala, que morreu prematuramente em 1972.
Foi o chefe da Columbia na época, Mike Frankovich (1909-1992), que  encaminhou para Carl Foreman o projeto. Foreman, a princípio, contratou o diretor inglês de comédias Alexander MacKendrick para dirigir o filme. Mas os atores não o aceitaram e MacKendrick foi mandado embora. Gregory Peck tinha direito a aprovar o diretor que quisesse e acabou selecionando outro britânico, J. Lee Thompson, achando que este mostrava sensibilidade e capacidade para cenas de ação (como o fez em Sangue Sobre a Índia, com Lauren Bacall). De fato, Lee Thompson é subestimado até hoje e não figura entre os grandes diretores do século XX. Em todas as entrevistas e documentários a respeito do filme, o elenco é unânime em elogiar a competência do cineasta, habilidade em conduzir atores, e seu método de ensaiar de manhã durante umas três horas, fazendo as marcações e explicando tudo para os astros.

James Darren, David Niven, Gia Scala
Gregory Peck e Anthony Quayle
Irene Pappas
No elenco, vale mencionar a participação breve de Richard Harris (1930-2002) como Barnsby, um oficial aliado, personagem que teria maior destaque na sequencia da aventura em Comando 10 de Navarone, aqui vivido por Harrison Ford. A grega Irene Pappas e a inglesa de origem italiana Gia Scala (atriz prematuramente falecida em 1972) participam de um elenco quase todo masculino, como duas integrantes da resistência que colaboraram com os aventureiros sabotadores. Em destaque, além da fotografia do especialista Oswald Morris (1915-2014), ainda tem o marcante comentário musical do Mestre Dimitri Tiomkin (1899-1979), o mesmo compositor de Matar ou Morrer a quem Carl Foreman confiou um de seus scores mais elaborados e criativos. Os Canhões de Navarone estreou nas salas cariocas em setembro de 1962, e até os dias de hoje, apesar dos efeitos especiais já estarem ultrapassados, é graças ao seu enredo de exuberante aventura que a obra de J. Lee Thompson figura entre um dos maiores espetáculos de ação já produzidos sobre a II Guerra Mundial, a exemplo de Os Doze Condenados (1967) e O Desafio das Águias (1968).  

Richard Harris, em breve participação
Gregory Peck e David Niven

O Fotógrafo Oswald Morris (de óculos), acompanhando os ângulos para as filmagens, com o diretor J. Lee Thompson e Gregory Peck.
A divulgação do filme nos jornais cariocas. OS CANHÕES DE NAVARONE estreou nos cinemas do Rio de Janeiro em 7 de Setembro de 1962.



POSTER

OS CANHÕES DE 

NAVARONE

(THE GUNS OF NAVARONE)

País – Estados Unidos/Inglaterra

Gênero – Aventura/Guerra

Ano de Produção – 1961

Direção: J. Lee Thompson

Produção: Carl Foreman, Leon Becker, e Cecil Ford, para a Colúmbia Pictures.

Roteiro: Carl Foreman, baseado no livro de Alistair MacLean.

Fotografia- Oswald Morris, em Cores

Música- Dimitri Tiomkin

Metragem – 155 minutos


Poster Original

ELENCO

Gregory Peck – Capitão Keith Mallory

David Niven – Cabo Miller

Anthony Quinn – Andrea Starvos

Stanley Baker – Brown

Anthony Quayle – Major Roy “Lucky” Franklin

James Darren – Soldado Pappadimos

Irene Pappas – Maria Pappadimos

Gia Scala – Anna

James Robertson Justice – Jensen/Narrador

Richard Harris – Barnsby

Bryan Foris – Corby

Allan Cuthbertson – Baker

Percy Herbert – Sargento Grogan

Walter Gotell – Muesel

Tutte Lemkow – Nicolai

       Albert Lieven – Comandante

Norman Wooland – Capitão do Grupo

Victor Beaumont – Oficial Alemão

Wolf Frees – Rádio Operador

Bob Simmons – Soldado Alemão em Navarone



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