No cinema de outrora (antes da década de 1940), se um
executivo quisesse chamar a atenção das plateias para cenas espetaculares de
ação, os produtores provocavam quedas de cavalos, principalmente no gênero
Western e Épico. Com esse “efeito”, os técnicos de Hollywood praticamente eram
obrigados a mata-los. O cruel método tinha até um nome, Running W, que consistia em amarrar arames nas patas dianteiras dos
animais que galopavam frente às câmeras até o ponto em que, ligados às estacas
fixas, os arames se distendiam, ocasionando tombos violentos. Justamente por
abusar desse truque um tanto malévolo em A CARGA DA BRIGADA LIGEIRA (The Charge of The Light Brigade, 1936) que a Warner foi processada pela
Sociedade Americana Protetora dos Animais e reconheceu ter sacrificado diversos
cavalos, principalmente na famosa sequência final, que mesmo com todos estes
fatos nada agradáveis, ainda assim foi prodígio de montagem e efeitos especiais,
onde reconstituiu a histórica Batalha de Balaklava, durante a Guerra da Crimeia
(1854-1856). Por essa razão, como pelo fato também da temática ser militarista
e conservadora, o filme - que em 1936 deu impulso definitivo a carreira de
Errol Flynn (1909-1959) depois da revelação em Capitão Blood no ano anterior - nunca mais foi reapresentado nos
cinemas depois da II Guerra Mundial, indo parar somente na televisão a partir
dos meados da década de 1960.
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O Produtor Hal B. Wallis |
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O Cineasta Michael Curtiz |
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Errol Flynn, o astro que interpreta um herói militarista e imperialista, retratado aos moldes da antiga Hollywood. |
Inspirado
num poema do inglês Lord Alfred Tennyson (1809-1892), publicado em 1855, o
jornalista nova-iorquino Michael Jacoby (1898-1970) redigiu um argumento que, a
princípio, não interessou ao produtor Hal B. Wallis (1899-1986). Contudo, foi o
êxito comercial de Lanceiros da Índia,
realizado em 1935 por Henry Hathaway e estrelado por Gary Cooper que convenceu
a Warner a filmar o roteiro de Jacoby mediante substanciais alterações, dando
assim sequência a um pequeno ciclo que Hollywood consagrou, na época, à
colonização da Inglaterra vitoriana na África e na Índia, através de outras
obras como As Quatro Penas Brancas e
Gunga Din, ambos realizados em 1939.
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Errol Flynn é o Major Geoffrey Vickers, do 27º Regimento de Lanceiros da índia. |
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O Major Vickers (Errol Flynn) e seus oficiais comandados, entre eles, David Niven. |
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O 27º Regimento chegando ao Forte Chukoti |
Anteriormente,
o tema sobre a Guerra da Crimeia já havia sido abordado num curta de 1912 e
também no filme inglês Balaklava, em
1930. Somente anos mais tarde, em 1968, é que o evento ganharia uma versão real
e desmistificadora colocando o imperialismo inglês contra a parede, no remake de A Carga da Brigada Ligeira, dirigido por
Tony Richardson. Aqui, no entanto, a versão estrelada por Errol Flynn é o da
exaltação do heroísmo individualista, do militarismo vingador e do prepotente
imperialismo. Quase toda a ação transcorre na Índia, e somente nos seus quinze
minutos finais de projeção é que vem a descrever o combate de Balaklava, e
ainda assim em desobediência aos verdadeiros eventos e a submissão à total
falsificação histórica. Personagens que historicamente são importantes, como os
lordes Raglan e Cardigan, não tem papéis importantes na ocorrência da fita, e a
carga dos Hussardos (em realidade militarmente desastrosa), é atribuída a um
gesto do herói, o Major Geoffrey Vickers (interpretado por Flynn), em represália ao massacre de mulheres e
crianças pelos hindus. Tal chacina,
nunca aconteceu.
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O Vilão Surat Khan (C. Henry Gordon), líder hindu, que rompe ligações diplomáticas com os ingleses, aliando-se aos inimigos.
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O Major Vickers e sua noiva, Elsa Campbell (Olivia De Havilland). |
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Elsa e Geoffrey: Uma relação conflituosa, tudo porque na realidade... |
Dentro desse pano de fundo narrado de forma artificial,
encontramos o líder hindu Surat Khan (C. Henry Gordon, 1884-1940), que rompe
relações comerciais com os ingleses e alia-se secretamente aos russos.
Estabelecido um conflito nos Balcãs entre russos de um lado, turcos, franceses
e ingleses de outro, o Major Geoffrey Vickers (Flynn), do 27º Regimento de
Lanceiros da Índia, é enviado à Arábia para comprar cavalos. Em Calcutá,
reencontra a noiva, Elsa Campbell (Olivia De Havilland, 1916-2020) que se apaixona por seu
irmão, Capitão Perry (Patric Knowles, 1911-1995). Surat Khan destrói e massacra
o forte Chukoti, mas Geoffrey – a quem o próprio Surat deve a vida – escapa com
a noiva. O 27º é transferido para a Crimeia e Geoffrey, ciente que Surat se
uniu aos russos, prepara sua vingança ao massacre, ordenando a carga de 700
cavaleiros ingleses contra 25 mil inimigos.
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Elsa ama o irmão de Geoffrey, o também militar Capitão Perry Vickers (Patrick Knowles) |
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A expressão de Elsa (Olivia De Havilland) confessando ao noivo seu amor pelo irmão dele. |
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O Major Vickers e o mascote do Regimento, Prema, filho de um militar aliado, Major Puran Singh. |
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O oficial indiano Puran Singh (J. Carrol Naish) chora ao segurar o corpo do filho, Prema, morto no massacre no forte liderado por Surat Khan. |
Contudo, é precisamente este sopro de legenda épica e
gloriosa, que se assemelha aos clássicos do western,
é que veio assegurar à realização do diretor Michael Curtiz (1886-1962) um
posto vitalício e de honra na antologia do cinema de aventura. A Warner, que
gastou um milhão e 200 mil dólares no projeto, nada poupou para levar sua “carga”
de ímpar grandiloquência. Até mesmo um forte inteiro, o de Chukoti, foi
construído em Agoura, perto de San Fernando Valley (todos os exteriores foram
rodados na Califórnia, em Lake Sherwood, Lone Pine, Sonora e Chatsworth). O impecável
tratamento em preto e branco do fotógrafo Sol Polito (1892-1960) e a trilha
sonora de Max Steiner (1888-1971) têm grandes destaques na produção. No elenco
despontam além de Flynn e De Havilland (em seu terceiro filme juntos) nomes
importantes como Donald Crisp (1892-1974), Nigel Bruce (1895-1953), J. Carrol
Naish (1896-1973), Spring Byington (1886–1971), e David Niven (1909-1983), que
iniciava sua carreira em Hollywood.
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O Major Vickers, entre o Capitão Randall (David Niven) e o Coronel Campbell (Donald Crisp), pai de Elsa, para decidir detalhes dos planos para deter Surat Khan. |
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O confronto final na Batalha de Balaklava. |
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O Major Vickers em sua luta heroica até suas últimas consequências, sacrificando sua própria vida. |
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O fim de Surat Khan. |
Foi no set de A Carga da Brigada Ligeira que o diretor, o húngaro Michael
Curtiz (que ainda mal falava inglês!), gritou para um assistente: "Traga os cavalos vazios" ("Bring on the empty horses"), querendo dizer
os cavalos sem ninguém montado, e que mais tarde David Niven usou como título
de sua autobiografia. A Carga da Brigada Ligeira ainda obteve um Oscar: o de melhor assistente de direção (categoria hoje inexistente), Jack Sullivan (1893-1946).
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Errol Flynn |
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Divulgação pelos jornais da época |
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O Lançamento do filme em março de 1937 pelas salas cariocas. Acima, a divulgação da estreia do filme no jornal O GLOBO. Acima, um pequeno cartaz anunciando o clássico no extinto Cine-Plaza (hoje, um lindo prédio comercial que leva o mesmo nome, no Centro do Rio de Janeiro). |
Visto e analisado nos dias atuais, talvez incomode um pouco a abordagem colonialista e o evidente racismo (os indianos intrinsecamente selvagens e assassinos em oposição aos ingleses, "nobres e heroicos"). Ainda assim, apesar do artifício da trama e da polêmica que a cerca - trata-se de uma obra prima incontestável da Sétima Arte assinada por um dos maiores cineastas do século XX, atravessando as barreiras imutáveis do tempo e do vento, graças ao seu exuberante espírito de aventura.
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Capa de DVD |
FICHA
TÉCNICA
A
CARGA DA
BRIGADA LIGEIRA
(THE CHARGE OF
THE LIGHT BRIGADE)
País : Estados Unidos
Ano : 1936
Gênero: Aventura
Direção: Michael
Curtiz
Produção: Hal B.
Wallis, Jack L. Warner, e Harry M. Warner, para Warner Brothers
Roteiro: Michael
Jacoby, baseado em poema de Lord Alfred Tennyson
Fotografia: Sol
Polito - Em Preto & Branco
Música: Max Steiner
Metragem: 115 minutos
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A CARGA DA BRIGADA LIGEIRA: Um clássico do cinema!
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ELENCO
Errol Flynn – Major
Geoffrey Vickers
Olivia De Havilland –
Elsa Campbell
Patrick Knowles –
Capitão Perry Vickers
Henry Stephenson –
Sir Charles Macefield
Nigel Bruce - Sir
Benjamin Warrenton
Donald Crisp –
Coronel Campbell
David Niven – Capitão
Randall
C. Henry Gordon –
Surat Khan
G.P. Huntley -Major Jowett
Robert Barrat – Conde
Igor Volonoff
Spring Byington -
Lady Octavia Warrenton
E.E. Clive - Sir Humphrey
Harcourt
J. Carrol Naish -
Subadar-Major Puran Singh
Princess Baba – Mãe de Prema
Scotty Beckett –
Prema Singh
George Regas - Vizir
Matéria originalmente publicada no extinto Blog "Filmes Antigos Club - A Nostalgia do Cinema", em 2016, agora atualizada e revisada pelo redator.
Paulo Telles
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