domingo, 7 de maio de 2023

Lex Barker: Vida e Carreira de Um dos Mais Famosos Intérpretes de Tarzan no Cinema

Divulgação

 Lex Barker (1919-1973) foi um dos mais notórios e populares intérpretes de Tarzan no Cinema. Alto, bonito e atlético, ele foi escolhido entre outros 100 candidatos para o papel do herói criado por Edgar Rice Burroughs (1875-1950) em substituição ao mito Johnnhy Weissmuller (1904-1984). A matéria presente recordará a vida e a carreira de Barker, que atuou em outros papéis, tanto em Hollywood como no cinema europeu, chegando a trabalhar com o mestre italiano Federico Fellini (1920-1993), e também filmou no Brasil (Rio de Janeiro). A vida e a carreira do ator Lex Barker, aqui no


Lex Barker aos 8 anos

Com a saída de Johnny Weissmuller (1904-1984) no papel do Homem Macaco, o produtor Sol Lesser (1890-1980) acionou o diretor Lee Sholem (1913-2000) para promover um teste na busca pelo próximo Tarzan. Para isso, Sholem convocou uma reunião com agentes cinematográficos e introduziu dentro dos estúdios da RKO uma sala para a realização de testes com possíveis candidatos. Ele chegou a entrevistar cerca de cem atores e atletas para o papel, mas nenhum atendeu as expectativas.

O Jovem Lex Barker, antes da fama.

Os testes já estavam no fim quando um jovem de 28 anos chamado Alexander “Lex” Crichlow Barker, aspirante ator na RKO, foi reparado pelo diretor em um dos corredores da companhia. Sholem o convidou para ir a seu escritório e logo foi perguntando:

        - Onde você esteve todo este tempo, rapaz? Você é bem alto.

        Barker prontamente respondeu:

        - Tenho 1m93.

        Sholem não perdeu tempo e foi logo objetivo:

        - Você gostaria de ser Tarzan? Um corpo atlético é que não lhe falta.

        - Gostaria sim – respondeu Barker.

        -Ótimo! – Exclamou felicíssimo Sholem – O papel é seu.

Ao lado da chimpanzé Chita, Lex Barker torna-se o Tarzan

O diretor tratou de ligar rapidamente para Lesser, comunicando que a busca pelo novo Tarzan havia chegado ao fim na descoberta por Lex Barker. Quando o produtor viu o jovem ator, concordou prontamente com a escolha de Sholem, e Barker foi contratado após os devidos testes.

O sucessor de Weissmuller a vestir a tanga de Tarzan nasceu em Rye, Nova York, em 8 de maio de 1919. Vindo de uma família abastada e proeminente de Nova York, Barker era descendente direto do fundador de Rhode Island - o Cônsul Roger Williams.

Lex malhando, para encarar as aventuras que vem por aí!

Lex foi excepcional nos esportes tais como o Futebol e Atletismo quando ainda cursava o ensino secundário e, posteriormente, a Universidade de Phillips-Exeter, em Fessenden. Foi a Princeton com a intenção de tornar-se ator, a contragosto de seus pais que o queriam nos negócios da família. Descoberto por um agente de talentos, este o convidou para ir a Hollywood fazer um teste na 20th Century Fox. A família não aprovou e acabou deserdando-o quando deixou bem claro suas pretensões na vida.

Lex em AMBICIOSA (1947)

Para bancar seus sustentos sem o apoio familiar, Barker trabalhava numa fábrica de aço de dia e a noite estudava engenharia. Realizado os testes na Fox, Lex atuou em pontas sem créditos.

Em fevereiro de 1941, quase um ano antes do ataque japonês a Pearl Harbor, Barker adiou seus projetos como ator e alistou-se no Exército dos Estados Unidos. Lutou na Sicília, onde foi ferido na cabeça e na perna. Tempos depois, foi promovido a Major de Infantaria.  

Com Robert Mitchum em RANCOR (1947) de Edward Dmytryk

Voltando para os Estados Unidos, Barker recuperou-se em um hospital militar no Arkansas. Ao entrar para reserva, viajou para Los Angeles. Conseguiu ponta no filme Sonhos de Uma Estrela (Doll Face, 1945) musical de Lewis Seiler, com Vivian Blaine e Carmen Miranda. Não recebendo muitas propostas no estúdio da raposa, tentou melhor sorte na RKO

No novo estúdio, Barker teve mais oportunidades, mesmo ganhando papéis pequenos. Foi o que ocorreu em Ambiciosa (The Farmer's Daughter, 1947) de C. H. Porter, com Loretta Young e Joseph Cotten, e Rancor (Crossfire, 1947) de Edward Dmytryk, com Robert Mitchum e Robert Ryan. Em 1948, foi notado no faroeste A Volta dos Homens Maus (Return of the Bad Men) de Ray Enright, com Randolph Scott

TARZAN


TARZAN ENTRA NA VIDA DE LEX BARKER.

Como Tarzan, seu primeiro trabalho foi em Tarzan e a Montanha Secreta (Tarzan's Magic Fountain, 1949), com Lee Sholem na direção e roteiro de Curt Siodmak e Harry Chandlee. Como nas produções anteriores, os roteiristas procuraram usar algumas peculiaridades dos livros de Edgar Rice Burroughs.

Avaliado por alguns críticos como jovem demais para viver o Homem Macaco, Barker chegou a declarar: Se meus músculos aguentarem, e minha cintura estiver baixa, eu posso interpretar Tarzan até aos 50 anos.

Com Brenda Joyce (como Jane) e Chita, em TARZAN E A MONTANHA SECRETA (1949), o primeiro filme de Barker vivendo o personagem de Edgar Rice Burroughs.

A história começa com a macaca Chita encontrando na selva os destroços de um avião e o diário de uma famosa pilota britânica desaparecida há 20 anos, Glória James (Evelyn Ankers, 1918-1985). O esperto animal entrega o diário para Tarzan (Barker) e a companheira Jane (Brenda Joyce, 1917-2009). Jane conhece a fama da aviadora e convence Tarzan a enviá-lo pelo correio, para a Inglaterra.

Na cidade, Tarzan fica sabendo que um homem (Albert Dekker, 1905-1969) ofereceu dinheiro por notícias da aviadora que podem livrá-lo da cadeia. Ele então volta à selva e vai ao Vale Azul, um lugar secreto onde vive uma tribo de pessoas que bebem da água de uma fonte da juventude. Glória James está ali, ainda com a aparência de 20 anos atrás.

Tarzan e a Montanha Secreta (1949)

Glória concorda em sair do vale para ajudar o preso, mas quando passa pela cidade com Tarzan, sua aparência jovem desperta a cobiça de alguns homens, que querem ganhar dinheiro vendendo o segredo da fonte da juventude.

Lançado em janeiro de 1949, o filme foi bem recepcionado. O The Hollywood Reporter escreveu: A história poderia reivindicar uma substância dramática mais completa, mas suas deficiências são amplamente compensadas em fundos de produção e em imagens de animais em cenas surpreendentes.

Sobre Lex Barker, ainda na mesma crítica: Quanto ao Tarzan de Barker, é igual a qualquer um dentro da memória deste crítico, e temos medo de que o personagem volte para Elmo Lincoln. O belo físico de Barker se encaixa na descrição de Burroughs, e ele é ator suficiente para tornar o Homem da Selva mais animado do que ele já foi.

Lex Barker e Elmo Lincoln: encontro de duas gerações intérpretes de Tarzan.

Curiosamente, Elmo Lincoln (1889-1952), o primeiro intérprete de Tarzan nas telas, que teve seus dias de glória incorporando o herói no período do cinema mudo, acabou fazendo uma participação não creditada em Tarzan e a Montanha Secreta, como um pescador. Nos intervalos de filmagem, fotos publicitárias para divulgação do filme foram tiradas com Barker e Lincoln juntos posando como Tarzan, mostrando o contraste de três décadas na retratação do personagem na Sétima Arte. Tarzan e a Montanha Secreta marcou também a última atuação de Brenda Joyce como Jane. A atriz alegou que queria passar mais tempo com o marido e os filhos, decidindo abandonar de vez a carreira cinematográfica. 

Com Vanessa Brown (como Jane) em TARZAN E A ESCRAVA (1950), segundo filme de Barker como o herói de Edgar Rice Burroughs

Em Tarzan e a Escrava (Tarzan and the Slave Girl, 1950), dirigido novamente por Sholem e com roteiro de Hans Jacoby e Arnold Belgard, traz Barker em seu segundo trabalho como o Senhor das Selvas, abordando os membros da tribo perdida dos Lionianos, adoradores de leões, que diminuem a olhos vistos vítimas de um mal misterioso. O Príncipe dos Lionianos (Hurd Hatfield, 1917-1998) e seu cruel conselheiro Sengo (Anthony Caruso, 1916-2003) capturam Jane (Vanessa Brown, 1928-1999) e a enfermeira Lola (Denise Darcel, 1924-2011), para fins de procriação. Cabe a Tarzan (Barker) resgatá-las.

Para apimentar a ação, os roteiristas incluíram também uma enfermeira sensual vivida pela francesa Darcel, que se apaixonava pelo Homem Macaco. Em várias cenas ela aparecia de sarongue e inúmeras revistas femininas reproduziram fotos dela agarrada a perna de Tarzan. Por sinal, em Tarzan e a Escrava foi inevitável o confronto entre a abusada enfermeira e a esposa do herói, que partiram para a luta corporal uma contra a outra, que terminou com a vitoriosa Jane.

Com Denise Darcel, em TARZAN E A ESCRAVA (1950)

Lançado em 15 de março de 1950, houve uma recepção crítica diversificada.  Para a Variety, o filme estava à altura dos padrões da série. A Photoplay chamou-o de tremendamente fantástico! - mas a Film Review foi na direção contrária: Ridículo, com algumas risadas não intencionais. Já os autores do livro The RKO Story louvam a direção segura de Lee Sholem, mas deploram a sequência em que Chita bebe uma garrafa de tequila e fica embriagada. Essa mesma sequência foi criticada também pelo site AllMovie.

TARZAN NA TERRA SELVAGEM (1951)

Para a produção seguinte, Lesser queria algo mais autêntico e uma nova energia, e resolveu filmar Tarzan na Terra Selvagem (Tarzan's Peril, 1951) nas selvas da África, sendo Barker o primeiro intérprete de toda a história a filmar no autêntico habitat de Tarzan.

A produção chegou à locação em julho de 1950, no meio do inverno abaixo do equador. Além disso, o Monte Quênia sempre foi tão turvo que Barker acabou perdendo seu bronzeado durante as rodagens, precisando urgentemente que a equipe pusesse mais maquiagem corporal sobre o ator.

Os chimpanzés que haviam sido trazidos de Hollywood ficaram paralisados e estranharam a região, recusando-se a cooperar nas gravações. E como não havia nenhum chimpanzé nas proximidades do Quênia que tivesse capacidade de atuar, Chita quase foi cortada do roteiro de Sam Newman e Francis Swan (as cenas com a chimpanzé foram feitas nos estúdios da RKO), e a princípio o título seria Tarzan and the Jungle Goddess.

Barker com Edgar Rice Burroughs, o criador de Tarzan.

O diretor escalado foi Byron Haskin (1899-1984), especialista em filmes de ação, que ajudou a retrabalhar o roteiro sobre três condenados fugitivos (George McCready, Douglas Fowley e Glen Anders) que estavam fornecendo armas a uma tribo nativa guerreira liderada pelo Rei Bulam (Frederick O’ Neal, 1905-1992).

Ali, conseguem persuadir uma tribo indígena local e montam uma base para o comércio de armas. Tarzan (Barker) precisa não só afastar os bandidos, mas provar aos nativos que as armas podem ser perigosas para eles mesmos.

Tarzan na Terra Selvagem era para ser a primeira produção a cores do Homem Macaco, entretanto mais da metade da fotografia foi arruinada no local, e por isso acabou sendo produzido em preto & branco. Lançado em março de 1951, a Variety classificou o filme como Suspense excitante.

A primeira vez que Lex Barker apareceu com a tanga de Tarzan durante as filmagens, os nativos caíram na gozação. A princípio, o ator se sentiu desmoralizado, mas o diretor Byron Haskin ajudou-o a superar e prosseguir com o trabalho. No Brasil, em suas exibições pela televisão, o filme recebeu o título de Tarzan em Perigo.

Com Dorothy Hart e Tommy Carlton em TARZAN E A FÚRIA SELVAGEM (1952)

O quarto filme de Barker como o herói, Tarzan e a Fúria Selvagem (Tarzan's Savage Fury, 1952) foi dirigido por Cy Endfield (1914-1995) e tinha o título original de Tarzan the Hunted. Desta vez, o produtor Lesser queria recriar o ambiente doméstico característico de tantos filmes estrelados por Johnny Weissmuller. Para isso, convocou o velho Cyril Hume (1900-1966), que fez o roteiro para O Filho de Tarzan (Tarzan Finds a Son, 1939) ainda na MGM.

Junto com outros dois escritores, Hans Jacoby e Shirley White, Hume tratou de desenvolver uma história que tivesse Jane e um personagem que se assemelhasse ao Boy de Johnny Sheffield. Assim nasceu o órfão Joey, resgatado pelo Homem Macaco das mãos de nativos que o usavam para caçar crocodilos.

Joey foi vivido por Tommy Carlton (1941-2009), um menino de onze anos de idade, em seu primeiro e único trabalho no cinema. Com alguns personagens extraídos do livro O Retorno de Tarzan (The Return of Tarzan, 1913) de Burroughs, a aventura apresenta dois agentes espiões, o russo Rokov (Charles Korvin, 1907-1998) e um inglês traidor, Edwards (Patrick Knowles, 1911-1995), que matam um primo de Tarzan (Barker). 

Edwards assume a identidade do primo assassinado e se apossa de todos os documentos da vítima, descobrindo o vínculo deste com o Homem Macaco, cujo pai é Lorde Greystoke. Contudo, o inglês é persuadido por Rokov, e o obriga a ir aonde se encontra Tarzan, para saber onde existe uma terra com diamantes brutos de valor incalculável.

Pôster original de TARZAN E A FÚRIA SELVAGEM (1952)

Encontrando o Homem Macaco, Edwards se apresenta como seu primo e lhe mostra um retrato de seu pai, comprovando o parentesco de Tarzan com a dinastia Greystoke. Entretanto, o propósito, principalmente de Rokov, é tentar persuadir o herói a leva-los até a terra dos diamantes. Tarzan aceita, mas com relutâncias. Os dois agentes explicam que o ouro é importante para o uso das Forças Armadas, mas na verdade eles não passam de criminosos que desejam enriquecer de maneira fácil e logo tentam fugir com o tesouro. Para assegurar que não serão perseguidos pelo Rei das Selvas, eles levam Jane (Dorothy Hart, 1922-2004) e Joey (Tommy Carlton). Mas Tarzan estará no encalço dos dois vilões.

O filme foi lançado em 18 de março de 1952, mas as críticas não foram muito boas. The Hollywood Reporter disse que Tommy Carlton é um jovem fascinante, com habilidades acrobáticas suficientes para viver um Tarzan júnior, mas o filme é um dos mais fracos da série. Opinião parecida têm os autores do livro The RKO Story, para quem o roteiro flácido, a direção sem vida de Cyril Endfield, e as melancólicas atuações do elenco principal fazem deste um dos episódios menos absorventes de Tarzan

Nos quinze meses decorridos antes do lançamento do próximo filme a ser rodado, Tarzan e a Mulher-Diabo (Tarzan and the She-Devil, 1953), muitos coisas ocorreram entre a empresa fundada por Edgar Rice Burroughs e o produtor executivo da RKO.

A Edgar Rice Burroughs. Inc estendeu os direitos de Tarzan para Sol Lesser por mais vinte anos. O escritor, morto em 1950, havia deixado romances ainda não publicados e fragmentos de meia dúzia de textos sobre Tarzan. Esta extensão foi resultado direto de outro acordo entre Burroughs e o produtor, que concordou em transmitir dez por cento dos lucros dos filmes de Tarzan nas bilheterias para a empresa de seu autor. Até aí, Lesser pagava uma taxa anual de cem mil dólares pelos direitos de filmagem.       

Pôster original de TARZAN E A MULHER DIABO (1953)

Quanto a Lex Barker, ele queria ampliar seus horizontes profissionais em outros papéis, mas isso não queria dizer que tinha pretensão em abandonar Tarzan. Ele se sentia grato ao personagem, afinal foi ele que deu o estrelato ao ator. Mas seguindo uma grande tendência em sua época, os atores queriam maior liberdade sobre suas carreiras e não queriam se submeter a longos contratos com os estúdios. Barker, influenciado por essa tendência, disse a Lesser que, após Tarzan e a Mulher Diabo, poderia até voltar a vestir a tanga do Rei das Selvas, desde que houvesse um contrato para cada produção.  Mas para o produtor, isto não lhe interessava, e quando as filmagens terminaram, o ator deixou a vaga de Tarzan à disposição. 

O filme deveria chamar-se Tarzan Meets the Vampire (Tarzan Encontra a Vampira), mas o diretor Kurt Neumann (1908-1958) julgou o título pouco realista e o renomeou. A Mulher Diabo, no fim das contas, era apenas uma cruel caçadora de marfins. No Brasil, também teve o título de Tarzan e a Mulher Diabólica em suas exibições pela TV.

Com Monique Van Vooren: TARZAN E A MULHER DIABO (1953)

Escrito por Carrol Young e Karl Kumb, o enredo narra sobre uma expedição de caçadores de marfim liderados pela sedutora Lyra, a Mulher-Diabo (Monique Van Vooren, 1927-2020), além de Vargo (Raymond Burr, 1917-1993) e Fidel (Tom Comway, 1904-1967), que escraviza os membros de uma tribo.

Tarzan (Barker) interfere e é capturado. Jane (Joyce Mackenzie, 1925-2021), que ele julgava morta, também é presa sem ele saber. Abatido, Tarzan não tenta escapar mesmo quando é cruelmente torturado. As coisas só mudam quando o Homem Macaco descobre que Jane está viva. Ele então, chama seus amigos elefantes.

Barker em seu último filme como o herói. Segundo a crítica, "submisso demais". TARZAN E A MULHER DIABO (1953)

O último trabalho de Barker como o herói de Burroughs foi recebido com frieza pelo público. Um dos motivos mais citados é o fato de que Tarzan passava grande parte da ação como prisioneiro e submisso.

A revista Variety explicou porque o filme não foi bem recebido:

        Um Tarzan mais manso que em qualquer outra ocasião é oferecido aqui, o que resulta em tédio durante boa parte de seus setenta e cinco minutos. Os únicos chamativos são o título e a reputação passada da série. 

Os autores do livro The RKO Story também seguiram a mesma opinião: Lex Barker passa muito tempo como um prisioneiro indefeso, situação que causou grande consternação entre os fãs, que esperavam dele todo tipo de façanhas sobre-humanas. Ao fim, apesar do estrondo (dos elefantes) no final, este foi um dos mais tediosos exemplares da saga de Tarzan

Lana Turner e Lex Barker

OUTROS PAPEIS, 5 CASAMENTOS E UM ESCANDALO

Após cinco filmes estrelando como o personagem de Edgar Rice Burroughs, Barker desfez contrato com Sol Lesser e partiu para outros trabalhos em diversas companhias, realizando uma variedade de papéis heroicos, principalmente em faroestes, como Torrentes de Vingança (Thunder Over the Plains, 1953) de Andre De Toth, onde briga com Randolph Scott (1898-1987) pelo amor de Phyllis Kirk (1927-2006).

Enfrentando Randolph Scott sob o olhar de Phyllis Kirk em TORRENTES DE VINGANÇA (1953).

O Morro da Traição (The Yellow Mountain, 1954) de Jesse Hibbs, A Caravana da Morte (The Man from Bitter Ridge, 1954) de Jack Arnold, e A Mestiça do Mississipi (Duel on the Mississippi, 1955) de William Castle, também são alguns trabalhos de destaque do ator após largar Tarzan.

Em 1956, elencou no clássico bélico Barcos ao Mar (Away All Boats, 1956) de Joseph Pevney, contracenando com Jeff Chandler (1918-1961), Julie Adams (1926-2019), George Nader (1921-2002), Richard Boone (1917-1981) e Jock Mahoney (1919-1989), que mais tarde também seria um famoso intérprete de Tarzan.

Com Jeff Chandler em BARCOS AO MAR (1956)

Barker foi casado cinco vezes, sendo duas com as atrizes Arlene Dahl (1925-2021 - que mais tarde se casaria com o ator Fernando Lamas) e Lana Turner (1921-1995). Ficou também casado por sete anos com a atriz espanhola Carmen Cervera, que fora Miss Espanha e de quem se divorciou em 1973. Lex teve dois filhos do primeiro casamento com Constanze Thurlow, e outro de sua união com Irene Labhart, que morreu em 1962.

Lana Turner foi uma das cinco esposas de Lex Barker.

Em 8 de setembro de 1953, Barker casa-se com Lana Turner, em Turim, Itália. Os dois eram considerados como o casal perfeito de Hollywood. Ambos belos, charmosos, e sensuais. Muitas biografias são concordantes quando trata-se de Lana Turner. Linda e excelente atriz, também era uma mulher que encontrava nos romances proibidos uma excitante emoção. Ela mesma admitia que não conseguia viver para só um homem. Todavia, também foi criticada por suas escolhas, que incluíam...Lex Barker.

Lex Barker e Lana Turner

Conta-se que Barker traia Lana com outras, mas que também encontrava tempo para assediar a filha de Lana, Cheryl. Lex sempre negou isso, alegando que só queria dar conselhos a adolescente que tinha então 12 anos. Alguns biógrafos afirmam que quando Lana sofreu um aborto do filho que estava esperando de Barker, este violentou Cheryl. Apesar de ameaçada pelo padrasto (de acordo com a filha de Lana), a adolescente acabou contando tudo à mãe. Examinada, um médico teria confirmado o fato.

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De noite, quando Barker dormia, Lana entrou com um revólver. Ele pensou que ela iria mata-lo e viu a morte muito perto, mas ela lhe deu vinte minutos para pegar suas coisas e desaparecer. Ele negou as acusações novamente, mas prudentemente visto uma Lana enfurecida e pronta para matar, foi embora.

Ao voltar para Itália, Barker declarou que Cheryl era a responsável pelo fim de seu casamento com Lana, e que havia sido a adolescente a assedia-lo. O processo de divórcio foi movido, e em 22 de julho de 1957, Lex e Lana estavam divorciados.

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Curiosamente, Lana teve um problema similar com Michael Dante, um astro do basquete que se tornara ator, e quando Cheryl foi se encontrar com o novo namorado da mãe, esta dessa vez acusou a filha de tentar seduzi-lo: “Eu vi você, e você já fez isto antes”, fazendo menção a filha ter flertado anteriormente com Lex Barker. 

Em 1957, Barker se casa com a atriz Irene Labhart, que viria a falecer em 1962.

Barker casou-se novamente em 1957 com outra atriz, Irene Labhart, com quem teve o filho Christopher (que também se tornaria ator). Cerca de 5 anos depois, Irene descobriu que tinha Leucemia, e faleceu em 1962. Com todos os cuidados, Barker demonstrou ser um marido dedicado, estando com ela até o seu fim.

A atriz espanhola Carmen Cervera foi a quinta e última esposa de Lex Barker.

Viúvo, Lex só reatou novas núpcias em 1965, com María del Carmen Rosario Cervera Fernández de la Guerra, uma jovem que havia sido "Miss Espanha" (atual Baronesa Thyssen) e que viria também a se tornar uma atriz em seu país. Como nos três primeiros matrimônios, o quinto também não deu certo. Divorciaram em 1972.


FILMES NA EUROPA E NO BRASIL

A partir de 1957, a carreira de Barker em Hollywood ficou abalada. Sendo fluente em quatro idiomas (francês, espanhol, italiano e alemão), e com dezesseis trabalhos em seu currículo, o ator mudou-se para a Europa, onde por lá encontrou enorme popularidade, estrelando mais de 40 filmes europeus. Fez ainda 50 filmes em várias partes do mundo: Brasil, Iugoslávia, Alemanha, Espanha, Líbano, e França. Um verdadeiro cidadão do mundo! 

Com Anita Ekberg em A DOCE VIDA, de Fellini (1960)

Na Itália, ele teve um papel curto, mas convincente como o noivo ciumento de Anita Ekberg (1931-2015) na obra prima de Federico Fellini (1920-1993) A Doce Vida (La Dolce Vita, 1960). Curiosamente, Barker interpreta um personagem que parece fazer alusão a ele próprio, pois no momento em que os paparazzi estão a postos para presenciar algum rompante entre ele e a noiva, um deles dispara um comentário dirigido ao personagem de Lex:

       - E Pensar que ele já foi o Tarzan!

O INVISÍVEL DR. MABUSE (1962)

                        .Nos estúdios de Cinecittà, Lex protagonizou aventuras Capa & Espada,   como A Espada do Sarraceno (La Scimitarra del Sarraceno, 1959) de Piero Pierotti, Os Piratas da Costa (I Pirati della Costa, 1960) de Domenico Paolella, e Robin Hood e os Piratas (Robin Hood e i Pirati, 1960) de Giorgio SimonellEntretanto, foi na Alemanha que ele obteve maior sucesso, estrelando dois filmes com base nas histórias do Dr. Mabuse (anteriormente filmadas por Fritz Lang): Nas Garras do Dr. Mabuse (Im Stahlnetz des Dr. Mabuse, 1961) e O Invisível Dr. Mabuse (Die unsichtbaren Krallen des Dr. Mabuse, 1962), ambos de Harald Reinl.

Barker como Old Shatterland, ao lado do índio Winnetou, vivido pelo francês Pierre Brice, ao longo de 13 filmes realizados na Alemanha e baseados nos livros do ilustre Karl May. 

Ainda na Alemanha, estrelou uma série treze filmes ao lado do francês Pierre Brice (1929-2015) com base nos romances do escritor alemão Karl May (1842-1912), com as aventuras do índio Winnetou e seu amigo Old Shatterhand, que fez muito sucesso ao longo da década de 1960.

Filmou no Brasil Folia de Assassinos (Gern hab' ich die Frauen gekillt, 1966), de Alberto Cardone e Robert Lynn, uma trama de espionagem com vários episódios  reunindo grande elenco internacional (Stewart Granger, Pierre Brice, Karin Dor, Klaus Kinski) em trama iniciada na Suiça, com Barker como um agente americano que investiga um crime no Rio de Janeiro em pleno carnaval. No Brasil, quando lançado em DVD, saiu com o título de Folia Sanguinária

Com o produtor alemão Horst Wendlandt e o ator Stewart Granger, na Suíça, durante as filmagens de FOLIA DE ASSASSINOS (1966).

Em 1966, Lex recebeu o Prêmio Bambi como Melhor Ator Estrangeiro na Alemanha. Ele voltava aos Estados Unidos de vez em quando e fazia participações especiais pela TV, como nas séries O Rei dos Ladrões (It Takes a Thief, 1968-1970) com Robert Wagner, e F.B.I (1965-1974) com Efrem Zimbalist Jr. Mas a Europa, especialmente a Alemanha, foi seu lar profissional pelo resto da vida.

O último registro pictórico de Barker, ao lado da noiva, a atriz Karen Kondazian, com quem pretendia se casar. Foto de maio de 1973 em celebração de seus 54 anos. 

Em 11 de maio de 1973, três dias depois de seu 54º aniversário, Lex Barker morreu de um ataque cardíaco fulminante enquanto caminhava por uma rua de Nova York, sua terra natal e que havia decidido fixar de vez sua residência no ano anterior, para ficar próximo da família. O ator estava indo encontrar com a jovem atriz Karen Kondazian, de quem estava noivo e tinha planos para casar. Seu funeral foi restrito para família e amigos mais chegados, seguido de sua cremação, cujas cinzas foram entregues a seu filho Christopher.

Lex Barker (1919-1973)

Muito embora até hoje não recebesse nenhuma estrela no Calçadão da Fama em Hollywood ou mesmo uma indicação - talvez por conta do episódio envolvendo Lana Turner e a filha, ainda assim, com diversas coisas ainda muito mal contadas e resolvidas sobre o caso – deu sua imensa contribuição a arte cinematográfica. 

Lex Barker foi o décimo ator oficial a caracterizar Tarzan nas telas, e sua bela aparência e físico ajudaram-no a tornar um dos mais populares intérpretes do herói na Sétima Arte.

Lex Barker em Winnetou.

Filmografia parcial

Ambiciosa (1947)

Dick Tracy versus Gruezone (1947)

Lar, Meu Tormento (1947)

Rancor (1947)

Tarzan e a fonte mágica (1949)

Tarzan e as escravas (1951)

Tarzan em perigo (1952)

Tarzan e a fúria selvagem - Tarzan e a Montanha Secreta (1952)

Tarzan e a mulher diabo (1953)

O morro da traição (1953)

A Mestiça do Mississipi (1953)

Tambores chamam para a guerra (1957)

A garota das meias pretas (1958)

La dolce vita- A Doce Vida (1960)

Piratas das Costas (1960)

O Terror do Máscara Vermelha (1961)

Robin Hood e o pirata (1961)

O invisível Dr. Mabuse (1962)

A Lei dos Apaches (1963)

Old Shatterhand (1963)

Winnetou (1964)

O Tesouro dos Renegados (1964)

Winnetou e a Mestiça (1965)

Aoom (1970) 

Paulo Telles é crítico de cinema, escritor e radialista (DRT 21959-RJ) além de colunista e redator do blog Cine Retro Boavista.

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