domingo, 9 de abril de 2023

Fugindo do Inferno (1963): Baseado em Fatos Reais, Uma Referência dos Espetáculos de Ação

Divulgação

Sabe-se que durante a II Guerra Mundial (1939-1945), o regulamento militar exigia dos oficiais capturados pelos inimigos o máximo empenho em fugir, ou caso isso fosse impossível, atrapalhar a vigilância rotineira dos campos de concentração. Para imobilizar os prisioneiros aliados que já tinham tentado fugir de outros campos da Gestapo e da SS, os nazistas criaram a Stalag Luft III, o mais vigiado dos campos de concentração militar. Pois foi justamente ali, diante do nariz de guardas alemães que fiscalizavam 24 horas por dia, que se concretizou a mais espetacular, ousada e espantosa fuga em massa que se tem notícia nos registros históricos de guerra.

Paul Brickhill, aviador que testemunhou os eventos da audaciosa fuga e que escreveu o livro The Great Escape, dando origem ao filme.
O roteirista James Clavell
O cineasta John Sturges
Paul Brickhill (1916-1991), testemunha ocular do evento, estava confinado no campo, mas não participou da fuga. Entretanto, reconstituiu a façanha dos fugitivos em um livro que os roteiristas James Clavell (1921-1994) e W. R. Burnett (1899-1982) adaptaram em 1962 para o cinema FUGINDO DO INFERNO (The Great Escape, 1963). Um mega-superespetáculo de 168 minutos de projeção, produzido e dirigido por John Sturges (1910-1992), resultando em uma das mais vibrantes aventuras de guerra da história do cinema, onde o diretor pôde repetir com sucesso a tensão temperada com farsa e deboche de seu trabalho anterior, Sete Homens e Um Destino (1960), do qual além de tomar o tom da narrativa, reutilizou três atores (Steve McQueen, James Coburn e Charles Bronson), e o repertório do compositor Elmer Bernstein (1922-2004). 

O diretor Sturges, com três dos astros do filme: Steve McQueen, James Coburn e Charles Bronson, que atuaram para o cineasta em Sete Homens e Um Destino, em 1960.
A chegada dos aliados ao campo de concentração.

Aparentemente, FUGINDO DO INFERNO não apresenta novidades em sua narrativa, já que foram contadas inúmeras vezes no cinema mais ou menos os mesmos incidentes (Inferno 17, de Billy Wilder, 1953). Mas o que dá força dramática a obra de Sturges para prender o interesse do público é a esplendida qualidade técnica do cineasta. Sem recorrer a efeitos especiais ou visuais extraordinários, atendo-se apenas aos recursos comuns da linguagem cinematográfica, Sturges narra sua história com um sentido dinâmico de reportagem, empregando um estilo cuja sobriedade tem suficiente impacto para levar o espectador à emoção. 
O diretor John Sturges dando um "retoque" no astro Steve McQueen.

Talvez a menor falha, mas percebível, em FUGINDO DO INFERNO, seja ela abordar apenas superficialmente a psicologia dos prisioneiros de guerra. O público fica apenas sabendo que é o dever de um oficial tudo fazer para escapar da prisão a fim de embaraçar e manter o inimigo ocupado da sua guarda. A obra de Sturges não explora convenientemente esse ângulo, fixando-se exclusivamente na execução do plano de fuga.  Assim, FUGINDO DO INFERNO  conta-nos a história de um ousado plano de fuga executado por um grupo de aviadores aliados recolhidos a um campo de concentração nazista, e que terminou irônica e dramaticamente num atentado a dignidade humana.

Bartlett "Operador X" (Richard Attemborough) é a mente e o chefe de tão audaciosa fuga.
John Leyton e Charles Bronson são os "Reis dos Túneis".

Charles Bronson é Denny, um dos "Reis dos Túneis", que apesar de sua perícia, é o mais amedrontado do grupo, pois sofre de claustrofobia.
Os fatos, incrivelmente surpreendentes, ocorreram de forma verídica. Em 1942, cerca de 600 oficiais britânicos e americanos da Força Aérea, detidos no Stalag Luft III, inconformados com a captura, passaram quase um ano preparando a fuga através de três túneis cavados dez metros abaixo do solo, com extensão superior a cem metros cada. Os oficias aliados estavam indignados com a prisão não porque foram extirpados de sua liberdade, mas porque de acordo com seu pensamento, a briga lá fora estava boa. A operação de fuga foi logo alcunhada de Operação X. Enquanto um grupo se revezava dia e noite nas escavações, outro forjava passes e documentos, manufaturavam mapas, e numa alfaiataria clandestina, faziam de velhos uniformes rasgados, trajes civis, e isto porque o problema maior existia após passar pela cerca de arame farpado: a perseguição massiva dos nazistas por toda a Alemanha, através dos canais de comunicação existentes, e também pelas rodovias e estradas de ferro.

Richard Attemborough é o "Operador X".
James Garner é Hendley 'The Scrounger'
Donald Pleasence é Blythe 'The Forger'
Como resultado de tão empenhada façanha que exigiu tanta perseverança, otimismo e engenho, o sucesso da operação foi parcial. Dos 250 prisioneiros escalados para a evasão, apenas 76 conseguiram atravessar o túnel. Quase todos, menos dois – recolhidos por um cargueiro do Mar do Norte – acabaram recapturados, e 50 foram sumariamente fuzilados, depois de uma fantástica caçada que mobilizou o surpreendente número de cinco milhões de alemães. 

O grupo preparando o terreno para a fuga audaciosa.
Steve McQueen é Hilts 'The Cooler King", isto porque sempre carrega uma luva e uma bola de Beisebol. O mais ousado e indisciplinado do grupo, que enfrenta diretamente... 
... os oficiais nazistas.
Três etapas dividem a narrativa: a chegada dos prisioneiros e o reconhecimento do campo; a preparação e a execução da fuga subterrânea; a dispersão dos fugitivos e a busca impiedosa em todas as vias e saídas pelos nazistas. Mas é a última fase a mais eletrizante de todas, graças aos desatinos de Hilts The Cooler King, o mais rebelde e indisciplinado do grupo, personagem vivido por Steve McQueen (1930-1980), que com motocicleta dispara pelos montes suíços.

Hendley e Blythe conseguem escapar do campo de concentração.

David McCallum é Ahsley The Pit 'Dispersal'

A proeza de Steve McQueen com a motocicleta em FUGINDO DO INFERNO (1963). O ator dispensou dublês para a cena.

O elenco é todo masculino. Além dos já despontados McQueen, James Coburn (1928-2002), e Charles Bronson (1921-2003) – este o mais amedrontado dos fugitivos – temos Richard Attemborough (1923-2014) como o chefe da Operação X; Donald Pleasence (1919-1995), James Garner (1928-2014), David McCallum (1933-2023), James Donald (1917-1993), John Leyton e Jud Taylor (1932-2008). Locações autênticas na Baviera emolduraram a espetaculosidade deste grande campeão de bilheteria nos cinemas (no Brasil, chegou em julho de 1964). 

Apesar da tão bem sucedida fuga do campo de concentração, Hendley é ferido e recapturado, e seu amigo Blythe morto pelos nazistas.
O 'Operador X', idealizador da fuga, também não teve sorte.
FUGINDO DO INFERNO (1963): um grupo de aviadores aliados recolhidos a um campo de concentração nazista, e que terminou irônica e dramaticamente num atentado a dignidade humana.
Quando exibido pela TV americana na década de 1970, registrou 31.3 pontos de audiência, e até hoje, além de ser uma referência nos cinematográficos espetáculos de ação, é uma das películas mais apreciadas e assistidas da história, o que corrobora sua qualidade de cinema de aventura, mesmo passados mais de 60 anos de seu lançamento.  Em 1988, um dos atores do clássico, Jud Taylor, junto ao cineasta Paul Wendklos, realizaram para a televisão uma sequencia da trama – FUGINDO DO INFERNO II – A VERDADEIRA HISTÓRIA (The Great Escape II – The Untold Story), com Christopher Reeve e Donald Pleseance, que também participou do filme de 1963.

Em cartaz no Rio de Janeiro em julho de 1964.

Ficha 

Técnica


Poster Original

Fugindo do 

inferno

(The Great Escape)

PAÍS – ESTADOS UNIDOS. 

ANO – 1963

GÊNERO - GUERRA/AÇÃO 

DIREÇÃO – JOHN STURGES. 

PRODUÇÃO – JOHN STURGES, JAMES CLAVELL e WALTER MIRISCH para a UNITED ARTISTS. 

ROTEIRO – JAMES CLAVELL e W. R. BURNETT, baseado no livro The Great Escape, de PAUL BRICKHILL. 

FOTOGRAFIA – DANIEL L. FAPP, em CORES. 

MÚSICA – ELMER BERNSTEIN. 

TEMPO DE PROJEÇÃO – 168 MINUTOS.


Steve McQueen

ELENCO

STEVE McQUEEN – HILTS “THE COOLER KING” 

JAMES GARNER – HENDLEY “THE SCROUNGER” 

RICHARD ATTEMBOROUGH – BARTLETT “OPERADOR X” 

JAMES DONALD – RAMSEY “THE SBO” 

CHARLES BRONSON – DANNY “O REI DO TÚNEL 1”

DONALD PLEASENCE – BYTHE “THE FORGER”

JAMES COBURN – SEGDWICK “MANUFACTURER” 

HANNES MESSEMER – VON LUG “THE KOMMANDANT” 

DAVID MAcCALLUM- ASLHEY PIT “DISPERSAL” 

GORDON JACKSON – MaCDONALD “INTELIGENCE” 

JOHN LEYTON – WILLIE “O REI DO TÚNEL 2” 

JUD TAYLOR – GOFF

WILLIAM RUSSELL – SORREN 

LAWRENCE MONTAIGNE – HAYNES 

KARL – OTTO ALBERTY – OFICIAL NAZISTA

Por Paulo Telles, direto do Cinema Com Poesia. 







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