sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Audazes e Malditos (1960): Western Com Mensagem Antirracista Com Tom Eloquente e Comovedor do Mestre Ford


AUDAZES E MALDITOS (Sergeant Rutledge, 1960) não está entre os filmes mais populares do Mestre John Ford (1895-1973) se for comparar com outras obras do cineasta. Mas é um filme na tradição admiravelmente humana deste grande diretor de tantos sucessos marcados, ainda mais por tratar-se de mensagem antirracista em tom eloquente e comovedor, com engrandecimento do ser humano. Uma obra que faz do preconceito racial o seu tema, sendo esta uma das mais exaltadas e efetivas demonstrações do que há de irracional e desprezível no homem.

O diretor John Ford
O diretor John Ford, de braços cruzados, dirigindo uma cena de beijo entre Jeffrey Hunter e Constance Powers.
Ford orientando Billie Burke.
Os apreciadores do western talvez possam desenhar esta obra fordiana, achando que ela contém elementos alheios as características do gênero. Afinal, trata-se não apenas sobre um trabalho em prol dos negros (na época de sua realização, já havia se iniciado o movimento dos direitos civis nos Estados Unidos), mas também um trabalho de linha jurídica, uma vez que a história é toda centrada no julgamento de um sargento negro, acusado injustamente de ter matado seu superior e violentado e assassinado a filha deste.

Woody Strode como o Sargento Braxton Rutledge, acusado de um crime que não cometeu...
... é levado a côrte marcial pelo seu regimento de cavalaria.
Assim, o que daria condição de fita do gênero, seria a situação do episódio no tempo e no espaço típico ao mesmo. Entretanto, através do depoimento de testemunhas, quando a ação vem a fugir do confinamento do tribunal para desenvolver-se no campo aberto, o hábil diretor Ford soube dar a história um toque inconfundível de western, onde não poderiam faltar os ingredientes que tanto nos aprofundamos, como a revolta dos índios e a ação da cavalaria. Mas AUDAZES E MALDITOS não nos relata episódios desta batalha, senão a luta heroica de um cidadão empenhado em afirmar-se como um soldado e um homem para fugir do estigma de “negro do charco” não seria o objetivo principal do tema.

No julgamento, o Sargento Rutledge é defendido por seu superior...
... o Tenente Thomas Cantrell, vivido por Jeffrey Hunter.

Na audiência, a hostilidade dos espectadores, que querem a pena de morte para Rutledge.

Tudo começa em 1866, um ano depois do término da Guerra Civil Americana (1861-1865), e depois da abolição da escravatura nos Estados Unidos. Negros que haviam sido escravos passam a integrar regimentos de cavalarias comandados por oficiais brancos. Mas nem por isso eles conseguem o respeito que merecem pela sociedade, já que preconceitos raciais levam um destes soldados, o 1º Sargento Braxton Rutledge (Woody Strode, 1914-1994) a ser acusado de um crime sórdido: estrangulamento de uma jovem, precedido de espancamento e estupro, seguido de assassinato do pai da vítima.

A jovem Mary Beecher (Constance Towers) acaba se solidarizando com Rutledge.

Rutledge tenta resistir a prisão...
... mas acaba convencendo o Tenente Cantrell de sua inocência.
Acusado injustamente e sem esperança de justiça, Rutledge foge e ocasionalmente trava encontro com Mary Beecher (Constance Towers), uma jovem que para em um posto de ferrovia e encontra o telegrafista morto em sua cabine, vítima dos apaches. Rutledge é ferido ao lutar com os índios e Mary resolve tratar de seu ferimento. Entretanto, é nesse meio tempo que o superior de Rutledge, o 1º Tenente Thomas Cantrell (Jeffrey Hunter, 1926-1969), oficial branco que comanda um regimento de soldados negros, vai encalço do sargento, onde o encontra junto a Mary Beecher, que a conhecera durante uma viagem de trem, iniciando um promissor romance. Mary, que havia ficado no Leste durante algum tempo, volta para o Oeste para rever o pai, mas fica ciente da situação violenta com os apaches, que resolveram declarar guerra aos brancos.
Enquanto não chegam a cidade para o julgamento, Cantrell e seu regimento enfrentam o ataque dos índios apaches.
Woody Strode. Jeffrey Hunter, e Constance Towers: AUDAZES E MALDITOS(1960), de John Ford.

Numa tentativa de fuga de Rutledge, Cantrell tenta abatê-lo, mas é impedido por Mary Beecher.
Após muitas discussões com Rutledge e Mary, o Tenente Cantrell acaba se convencendo da inocência do sargento e se voluntaria a defendê-lo em seu julgamento. Mas até lá, muitos incidentes vão ocorrer com o trio e o regimento. Ataques seguidos dos apaches atrasam a jornada, e neste ínterim, Rutledge ainda não está convencido da ajuda de Cantrell e consegue escapar durante um confronto forçado com os índios, mas retorna quando reflete que seria muito pior fugir, pois estaria assumindo a culpa, além do amor próprio e pelo seu regimento de cavalaria. É o sargento que descobre o paradeiro do pai de Mary, encontrado sem vida, morto pelos apaches.

O julgamento é presidido pelo neurastênico Coronel Otis Forgate, vivido por Willis Bouchey.
A veterana Billie Burke como a esposa de Otis, Cordelia, parte humorística deste western de Ford.
Carleton Young é o advogado racista e cruel promotor do caso.
No julgamento presidido por um neurastênico juiz, Coronel Otis Forgate (Willis Bouchey, 1907-1977) que vive chamando atenção da inconveniente esposa, Cordelia (Billie Burke, 1884-1970), Rutledge é defendido implacavelmente por Cantrell, e ambos terão que enfrentar a perspicácia de um promotor que odeia negros, Capitão Shattuck (Carlenton Young, 1905-1994) que utiliza meios brutais para acusar o sargento. Em sucessivos Flash-Backs, são reconstituídos os fatos em debate.

Mary Beecher é uma das testemunhas de defesa, que testifica a coragem e a bravura do Sargento Rutledge.
Mary chega a pedir a Cantrell para não levar Rutledge a julgamento, mas como oficial, ele esta na obrigação e cumprimento do dever.
Por certo, o argumento com base no romance de James Warner Bellah (1899–1976) redigido pelo próprio autor junto ao produtor Willis Goldbeck (1898–1979) apresenta deficiências. De início, dificilmente o espectador poderá acreditar que aquela figura estoica sentada no banco dos réus seja capaz dos hediondos crimes que lhe imputam. E o final parece ter mais um toque de artificialismo e falsidade. No mais, John Ford combina soberbamente os elementos intrínsecos da história com ação movimentada e a beleza plástica das imagens. Tecnicamente mais enfeitado que a maioria dos filmes do cineasta, contém algumas das sequências de antologia, num relato tenso, épico, bem humorado, e de solene eloquência dramática.

Woody Strode tem a melhor atuação do filme.
A gigantesca e estoica figura de Strode em AUDAZES E MALDITOS tem dignidade em seu desempenho.
O que nas mãos de outro diretor poderia ser simples truques e artifícios, nas mãos de Ford adquire uma qualidade de inevitável precisão e naturalidade. Assim é que fiel a sua tradição, o cineasta explora admiravelmente inúmeros detalhes humanos, às vezes ridiculamente ingênuos e mordazmente humanos, que o espectador pode perceber e apreciar sem reservas. Estas pequenas vinhetas de conduta estão a cargo de Willis Bouchey e Billie Burke, que mesmo dentro de um enredo sério fazem o objeto humorístico da trama. Ele como o juiz da corte que julgará o Sargento Rutledge, e ela como sua esposa meio senil, que faz mais por atrapalhar o andamento da sessão.

Jeffrey Hunter e sua esposa Dusty num intervalo das filmagens.
Jeffrey Hunter em AUDAZES E MALDITOS (1960) de John Ford.
Embora Jeffrey Hunter (em seu terceiro e último filme de Ford - os dois anteriores foram Rastros de Ódio em 1956 e O Último Hurrah em 1958) e Constance Towers (que atuou para o diretor em Marcha de Heróis em 1958) sejam os nomes estrelares e apareçam eficientemente na película, a grande interpretação fica por conta do ex-atleta Woody Strode. Gigantesca figura de ébano, Strode tinha dignidade e, sobretudo, era um ator de densidade dramática, capaz de carregar em seus ombros o filme todo. Uma extraordinária interpretação deste que foi um dos atores negros mais talentosos do cinema e na TV, falecido em 1994.

Divulgação

AUDAZES E MALDITOS, apesar de ignorado por alguns críticos, é uma obra admirável, que merece destaque entre tantas outras que compõem a criação máxima do Mestre John Ford, recomendável sem reservas para todos os públicos.


Divulgação

AUDAZES E MALDITOS chegou as salas do Rio de Janeiro em fevereiro de 1961, mas em março de 1960, Jeffrey Hunter e Constance Towers foram capa da revista FILMELÂNDIA, publicada pela extinta Rio Gráfica Editora.




País – Estados Unidos

Título Original – Sergeant Rutledge

Ano – 1960

Gênero – Western

Direção – John Ford

Produção – Patrick Ford e Willis Goldbeck para a Warner Bros.

Roteiro – James Warner Bellah e Willis Goldbeck, com base em livro de James Warner Bellah

Música – Howard Jackson

Fotografia – Bert Glennon, em Cores

Metragem – 111 minutos.


Constance Towers e Jeffrey Hunter


JEFFREY HUNTER – 1º Tenente Thomas Cantrell

 

CONSTANCE TOWERS – Mary Beecher

 

WOODY STRODE – 1º Sargento Braxton Rutledge

 

BILLIE BURKE – Senhora Cordelia Fosgate

 

JUANO HERNANDEZ – Sargento Matthew Luke Skikdmore

 

WILLIS BOUCHEY – Coronel Otis Fosgate, o juiz

 

CARLETON YOUNG – Capitão Shattuck, promotor do caso

 

JUDSON PRATT – Tenente Mulqueen

 

CHUCK HAYWARD – Capitão Dickinson

 

WILLIAM HENRY – Capitão Dawyer

 

JAMES JOHNSON – Trompetista

 

RAFER JOHNSON – Cabo Krump

 

MAE MARSH – Senhora Nellie Hackett

 

TOBY MICHAELS – Lucy Dabney, a vítima

 

CHUCK ROBERSON – Membro da Côrte Marcial

 

CHARLES SEEL – Dr. Walter Eckner

 

CLIF LYONS – Sr. Sam Beecher

 

FRED LIBBY – Sr. Chandler Humble

 

ED SHAW – Cris Humble

 



sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Agonia e Êxtase (1965): Obra Prima do Cinema Sobre o Mestre da Renascença

 


Por Adilson Carvalho & Paulo Telles 

(Site CINEMA COM POESIA)

https://cinemacompoesia.wordpress.com/

Em 11 de Novembro de 2023 completarão 511 anos da abertura ao público da Capela Sistina com os afrescos pintados pelo mestre renascentista Michelangelo (1475- 1564). Para o devido registro, um afresco é uma pintura feita sobre uma superfície com base de argamassa ou gesso. A obra foi encomendada pelo Papa Julius II (1443-1513) ao artista que estava relutante em aceitar o serviço que veio a entrar pela história como uma das grandes obras primas artísticas, um legado da humanidade. Michelangelo não se enxergava como um pintor, e sim como escultor. A encomenda, no entanto, era um desafio além de ser bem paga pela igreja.

Charlton Heston e Rex Harrison

A relação entre o artista e o Papa era muito conflituosa. Na época a figura do Papa era muito mais austera, com poder político incontestável, o qual Julius II (Rex Harrisson, 1908-1990) usa para pressionar Michelangelo (Charlton Heston, 1923-2018) a concluir a encomenda, de representar no teto da Capela os episódios do livro do Gênesis. Esta foi construída bem antes, seguindo o estilo arquitetônico do Templo de Salomão, e batizada em homenagem ao Papa Sisto IV, que era tio de Julius II. O escritor Irving Stone (1903-1989) passou meses em Roma para pesquisar tudo a respeito e teve acesso a cartas escritas pelo próprio Michelangelo. Com esse material, o autor escreveu o livro “Agonia & Êxtase”, publicado em 1959, e seguido à risca pelo roteirista Philip Dunne (1908-1992) que o adaptou para o cinema em 1965, com direção de Carol Reed (1906-1976).

Charlton Heston, magnífico como Michelangelo


O filme realizado pela Twentieth Century Fox teve o orçamento em torno de US$ 10.000.000. A princípio, Spencer Tracy (O Médico & O Monstro, O Velho & o Mar) seria o Papa, papel que ficou com Rex Harrisson. Este se recusou a deixar crescer a barba como o verdadeiro Julius II. Já Charlton Heston (Ben Hur) usou maquiagem para fazer seu nariz ficar mais parecido com seu personagem. Curiosamente, Heston e Harrisson tiveram um convívio nada amistoso durante as filmagens, o que seu diretor gostou de forma a reforçar a rivalidade entre os personagens. A capela foi recriada em estúdio (Dinocitta em Roma) e teve uma cenografia e fotografia belíssimas. O filme é vigoroso graças a essa hostilização entre Heston e Harrisson, dois grandes atores que se entregam a seus personagens. Apesar de ser um ótimo filme, este foi mal nas bilheterias arrecadando nas bilheterias americanas apenas US$ 4,000.000. Ainda assim recebeu indicação a cinco Oscars (melhor figurino, melhor direção de arte, melhor som, melhor fotografia e melhor trilha sonora, a cargo de Alex North). Também foi indicado a dois Globos de Ouro. Eu, Adilson Carvalho, assisti ao filme na Globo há muito tempo e adoraria ter a oportunidade de revê-lo, um exemplar de uma Hollywood que deixou marcas históricas.



Os Profissionais (1966): A Resposta do Faroeste Norte-Americano Para os Westerns Europeus

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Em 1966, os faroestes italianos estavam em franca ascensão, após o estrondoso sucesso da trilogia de Sergio Leone (Por Um Punhado de Dólares, Por uns Dólares a Mais, Três Homens em Conflito) e de obras como Django, de 1966, dirigido por Sergio Corbucci, e O Dólar Furado, de 1965. O novo estilo de se fazer westerns por parte de cineastas europeus já haviam conquistado as plateias. O velho estilo americano não parecia mais cativar o público, que exigia mais ação do que qualquer outra coisa. Prova disso, é que não demorou que ambos os lados, americanos e europeus, duelassem entre si para quem era o detentor das verdadeiras superproduções do gênero Western, gênero este que há de convir, é genuinamente americano por excelência. Mas que os europeus moldaram e ainda ajudaram a dar sobrevida ao gênero.


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O diretor Richard Brooks, de branco, com sua equipe nas locações de OS PROFISSIONAIS, no México
O Cineasta Brooks, sem camisa, conversando com Lee Marvin, sob os olhares de Burt Lancaster e Woody Strode, num intervalo das filmagens.
Em geral, os faroestes italianos situavam suas tramas no México, lugar bem sugestivo, onde o foco era os mercenários tão bem retratados por Clint Eastwood nas obras de Sergio Leone. Nos westerns Spaghetti não existe o herói tão externado nos westerns americanos de praxe. Logo, para que Hollywood não perdesse o duelo com os estrangeiros, precisou fazer uma releitura e levar os elementos bem estigmatizados nos faroestes italianos para os faroestes norte-americanos. E isso exatamente veio a acontecer em Os Profissionais (The Professionals) em 1966, dirigido por Richard Brooks (1912-1992), outrora um roteirista conceituado que se tornou cineasta, e dos bons.

OS QUATRO "PROFISSIONAIS"
Jake  (Woody Strode), Ehrengard (Robert Ryan) e Fardan (Lee Marvin)

Os Profissionais é um western de proporção bem aventuresca, reabrindo de alto a baixo a fronteira mexicana, estrada esta percorrida em muitos dos faroestes italianos e que até mesmo o lendário cineasta Eric Von Stroheim já havia feito o mesmo itinerário em sua obra Ouro e Maldição, de 1928. Quando pensamos no velho México como rota de bandoleiros, o que desenhamos nas nossas mentes? Muita tequila, muitas muchachas, e claro, bandidos e toda crueldade de violência. E isso sem contar ainda que uma revolução estava em processo em 1917, onde dela se emergiu alguns mitos, como Pancho Villa ou Emiliano Zapata, mitos estes que o próprio cinema se encarregou de levar suas vidas para as telas, sempre às vezes com um pouco de lenda e romance. O interessante que Brooks ao levar seu western recorre a estes elementos de ação tão divulgados por Leone e Corbucci, sem é claro de deixar de prestar uma homenagem ao clássico O Tesouro de Sierra Madre, de John Huston, onde Brooks aproximou seu western a uma energética tensão comparado a obra de Huston. Aliás, Os Profissionais relembra numa só vez outros filmes do gênero, contudo cada um com seu enquadramento ou temática, como por exemplo, a densidade pictoricamente dramática de Ouro e Maldição, as colonizações políticas de Viva Zapata, e até mesmo, do sarcasmo mercenário de Vera Cruz, de Robert Aldrich, onde há quem diga que os cineastas italianos se inspiraram neste filme para compor eles mesmos seus trabalhos ao estilo.

Fardan e Dolworth, dois "Soldados da Fortuna"
Ehrengard e Dolworth, examinando os riscos
O Aventureiro Jake e Maria
Seja como for, Os Profissionais restaurou a carreira de Richard Brooks, que estava em momentâneo declínio após o fracasso de seu filme anterior, Lord Jim, que o deixou bem abalado. Brooks era um de tantos diretores da década de 1960 para quem a aventura, além de um objetivo dominante, pode ser um verdadeiro exercício ao estilo. A aventura indômita e sem subterfúgios, dela emergindo uma emoção, uma nuance psicológica, mas sempre a frente do perigo, que também não se desprende de uma intenção ética se esse perigo coloca personagens em crise ou acelera o processo de uma decisão individual. No caso, o que se decide é o valor da revolução mexicana de 1917 e “os profissionais” do título irão discuti-lo nos momentos de trégua de suas aventuras, quando é preciso pensar antes de prosseguir com a caminhada.

Maria (Claudia Cardinale) e Raza (Jack Palance)
O barão Grant, vivido por Ralph Bellamy
Claudia Cardinale é Maria
WESTERN com ritmo de bang bang a italiana, traz vários personagens embarcados numa aventura em comum, e chegam até mesmo a serem solidários, chegando ao ponto de decidir entre o amor de Maria (Claudia Cardinale) e a arrogância de Grant (Ralph Bellamy,1904-1991). Sim, nossos “heróis” são mercenários, mas ainda tem escrúpulos, embora sejam contratados por Grant, um fazendeiro e político muito rico, que os contrata para resgatar a jovem mexicana Maria, sua esposa, que fora raptada por Raza (Jack Palance, 1919-2006), um bandoleiro mexicano. A recompensa atraí “os profissionais”.

Lee Marvin é Fardan

Robert Ryan é Ehrengard

Burt Lancaster é Dolworth
Woody Strode é Jake
Grant contrata quatro “profissionais” de guerrilha para resgatar sua mulher. São eles: Fardan (Lee Marvin, 1924-1987) e Dolworth (Burt Lancaster, 1913-1994), outrora adeptos de Raza; Ehrengard (Robert Ryan, 1909-1973), um especialista em cavalos; e um caçador de recompensas negro, Jake (Woody Strode, 1914-1994), que é perito em arco e flecha. De repente, tudo parece se modificar, e os “profissionais” contratados por Grant partem juntos com os homens de Raza, a luta continua contra um adversário comum. A situação parece se inverter, mas na verdade esta apenas se renovando à medida que a aventura desliza, ereta, em trânsito, para outras façanhas. Entre um acordo fraudulento e a simpatia política pelos revolucionários, os quatro “profissionais” não vacilam e escolhem a sua segunda chance. Aliás, é a oportunidade da “segunda chance” o tema abordado nesta fita de Brooks, que ele abordara em Lord Jim, mas que em Os Profissionais ele restaura não com tanto manifesto como o fez na sua adaptação cinematográfica do livro de Joseph Conrad, mas sim, categoricamente enquadrado. Como Lord Jim, Os Profissionais promovem com a reviravolta final, a sua retratação ética. 

Com Fardan não se brinca.
A estratégia de Dolworth
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O crítico inglês David Adams comparou Os Profissionais a Sete Homens e Um Destino, a conversão ao Western da coreográfica violência de Os Sete Samurais, de Akira Kurosawa. Entre os pontos de identidade entre os dois filmes, o ator mexicano Jorge Martinez de Hoyos (1920-1997) em papel equivalente, o prólogo apresentando em sua especialidade os heróis convocados para a missão; a música de Maurice Jarre (1924-2009), recompondo a suíte mexicana de Elmer Bernstein; e na trama, a recaptura de uma mulher em pleno deserto. Em vez dos “sete magníficos”, quatro “profissionais” que são mercenários, aventureiros, “soldados da fortuna”.

Claudia Cardinale & Lee Marvin

O revolucionário Raza, vivido por Jack Palance, sendo cuidado por Maria
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Os “Profissionais” agem juntos, mas cada um tem uma personalidade. Dentre eles, o caráter de Dolworth (Lancaster) antagoniza com a personalidade de Fardan (Marvin), e muito embora amigos, trava-se um conflito entre os dois que irá conferir ao filme seu suplemento ideológico.

Jack Palance é Raza.
Lee Marvin & Robert Ryan

Mas é a categoria do elenco, que nem sempre Hollywood pode reunir uma constelação de estrelas como se reuniu para a composição desta fita, que dá equilíbrio a trama, e não deixou de ser de propósito a escalação de Claudia Cardinale para o papel de Maria. Se Brooks quis mesmo realizar um trabalho no gênero Western aos moldes dos cineastas europeus, a convocação da atriz italiana não foi coincidência. O roteiro redigido por Brooks, que nem sempre foi disciplinado a sua vocação literária, por sua vez adaptou a novela de Frank O’ Rourke (1916-1989) intitulada A Mule for the Marquesa, e pôde colocar na boca da protagonista feminina e do revolucionário Raza, vivido por Jack Palance, verdades românticas e frases feitas, cuja função, na imagem ríspida da aventura, chega a ser inadequada e postiça. 

Woody Strode e Lee Marvin conversam durante uma folga das filmagens.
A Bela italiana Claudia Cardinale num Western americano
Robert Ryan como Ehrengard em ação
Talvez essa deficiência na estruturação dos personagens com a linha política não entrava, porém, a marcha indômita dos “Profissionais” não diminui a tensão, a tenacidade, e o ritmo tão bem enquadrados num bom espetáculo de ação. A partir desta obra é que os cineastas americanos passaram a inovar o bom e tradicional cinema de faroeste, afinal, não queriam perder o terreno para os italianos. Seja como for, passados quase 60 anos de seu lançamento, Os Profissionais foi a resposta americana para os então producentes faroestes italianos que vigorava na moda, sendo até hoje capaz de prender o espectador, mesmo o mais jovem, pois expressa o perfeito domínio do cineasta Richard Brooks e o dos astros Burt Lancaster, Lee Marvin, Robert Ryan, Woody Strode, Jack Palance, e claro, Claudia Cardinale, sobre as leis do espetáculo e o avanço do tempo.

Jack Palance em OS PROFISSIONAIS (1966)

Marie Gomez é Chiquita, uma revolucionária a serviço de Raza

Divulgação de OS PROFISSIONAIS nas salas do Rio de Janeiro, pelos jornais. O CINE ODEON, ainda de pé na Cinelândia, foi uma das salas a abrigar o espetáculo.

FICHA TÉCNICA

OS

PROFISSIONAIS

(The Professionals)

Título Original – The Professionals

Ano – 1966

Direção – Richard Brooks

Produção - Richard Brooks para Columbia (distribuição)

Roteiro – Richard Brooks e Frank O’ Rourke, baseado no livro A Mule for The Marquesa, de Frank O' Rourke.

Gênero - Western

País- Estados Unidos

Fotografia - Conrad Hall (em cores)

Música - Maurice Jarre

Metragem - 117 minutos

ELENCO

Lee Marvin  - Henry "Rico" Fardan

Burt Lancaster - Bill Dolworth

Robert Ryan - Hans Ehrengard

Woody Strode - Jake Sharp

Jack Palance – Jesus Raza

Ralph Bellamy  -  J.W. Grant

Claudia Cardinale -  Maria

Maria Gomez -  Chiquita

Joe De Santis - Ortega

Jorge Martinez de Hoyos -  Eduardo Padilla

Carlos Romero – Revolucionário

Vaughn Taylor - Revolucionário

Don Carlos – Bandido

Roberto Contreras – Bandido

Nelson Sardelli – Revolucionário de Raza


Um Convidado Bem Trapalhão (1968): Blake Edwards faz Peter Sellers promover uma festa de arromba!

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