|
Divulgação
|
Em 1966, os faroestes
italianos estavam em franca ascensão, após o estrondoso sucesso da trilogia de
Sergio Leone (Por Um Punhado de Dólares, Por uns Dólares a Mais, Três Homens em
Conflito) e de obras como Django, de 1966, dirigido por Sergio Corbucci, e O
Dólar Furado, de 1965. O novo estilo de se fazer westerns por parte de
cineastas europeus já haviam conquistado as plateias. O velho estilo americano
não parecia mais cativar o público, que exigia mais ação do que qualquer outra
coisa. Prova disso, é que não demorou que ambos os lados, americanos e
europeus, duelassem entre si para quem era o detentor das verdadeiras
superproduções do gênero Western, gênero este que há de convir, é genuinamente
americano por excelência. Mas que os europeus moldaram e ainda ajudaram a dar
sobrevida ao gênero.
|
DIVULGAÇÃO |
|
O diretor Richard Brooks, de branco, com sua equipe nas locações de OS PROFISSIONAIS, no México |
|
O Cineasta Brooks, sem camisa, conversando com Lee Marvin, sob os olhares de Burt Lancaster e Woody Strode, num intervalo das filmagens. |
Em geral, os faroestes italianos situavam suas
tramas no México, lugar bem sugestivo, onde o foco era os mercenários tão bem
retratados por Clint Eastwood nas obras de Sergio Leone. Nos westerns Spaghetti
não existe o herói tão externado nos westerns americanos de praxe. Logo, para
que Hollywood não perdesse o duelo com os estrangeiros, precisou fazer uma releitura
e levar os elementos bem estigmatizados nos faroestes italianos para os
faroestes norte-americanos. E isso exatamente veio a acontecer em Os
Profissionais (The Professionals) em 1966, dirigido por Richard Brooks
(1912-1992), outrora um roteirista conceituado que se tornou cineasta, e dos
bons.
|
OS QUATRO "PROFISSIONAIS" |
|
Jake (Woody Strode), Ehrengard (Robert Ryan) e Fardan (Lee Marvin) |
Os Profissionais é um western de proporção bem
aventuresca, reabrindo de alto a baixo a fronteira mexicana, estrada esta
percorrida em muitos dos faroestes italianos e que até mesmo o lendário
cineasta Eric Von Stroheim já havia feito o mesmo itinerário em sua obra Ouro e
Maldição, de 1928. Quando pensamos no velho México como rota de bandoleiros, o
que desenhamos nas nossas mentes? Muita tequila, muitas muchachas, e claro,
bandidos e toda crueldade de violência. E isso sem contar ainda que uma
revolução estava em processo em 1917, onde dela se emergiu alguns mitos, como
Pancho Villa ou Emiliano Zapata, mitos estes que o próprio cinema se encarregou
de levar suas vidas para as telas, sempre às vezes com um pouco de lenda e
romance. O interessante que Brooks ao levar seu western recorre a estes
elementos de ação tão divulgados por Leone e Corbucci, sem é claro de deixar de
prestar uma homenagem ao clássico O Tesouro de Sierra Madre, de John Huston,
onde Brooks aproximou seu western a uma energética tensão comparado a obra de
Huston. Aliás, Os Profissionais relembra numa só vez outros filmes do gênero,
contudo cada um com seu enquadramento ou temática, como por exemplo, a
densidade pictoricamente dramática de Ouro e Maldição, as colonizações
políticas de Viva Zapata, e até mesmo, do sarcasmo mercenário de Vera Cruz, de
Robert Aldrich, onde há quem diga que os cineastas italianos se inspiraram
neste filme para compor eles mesmos seus trabalhos ao estilo.
|
Fardan e Dolworth, dois "Soldados da Fortuna" |
|
Ehrengard e Dolworth, examinando os riscos |
|
O Aventureiro Jake e Maria |
Seja como for, Os Profissionais restaurou a carreira de Richard Brooks, que estava
em momentâneo declínio após o fracasso de seu filme anterior, Lord Jim, que o deixou bem abalado. Brooks
era um de tantos diretores da década de 1960 para quem a aventura, além de um
objetivo dominante, pode ser um verdadeiro exercício ao estilo. A aventura indômita
e sem subterfúgios, dela emergindo uma emoção, uma nuance psicológica, mas
sempre a frente do perigo, que também não se desprende de uma intenção ética se
esse perigo coloca personagens em crise ou acelera o processo de uma decisão
individual. No caso, o que se decide é o valor da revolução mexicana de 1917 e “os
profissionais” do título irão discuti-lo nos momentos de trégua de suas
aventuras, quando é preciso pensar antes de prosseguir com a caminhada.
|
Maria (Claudia Cardinale) e Raza (Jack Palance) |
|
O barão Grant, vivido por Ralph Bellamy |
|
Claudia Cardinale é Maria |
WESTERN com ritmo de bang bang a italiana, traz vários
personagens embarcados numa aventura em comum, e chegam até mesmo a serem
solidários, chegando ao ponto de decidir entre o amor de Maria (Claudia
Cardinale) e a arrogância de Grant (Ralph Bellamy,1904-1991). Sim, nossos
“heróis” são mercenários, mas ainda tem escrúpulos, embora sejam contratados
por Grant, um fazendeiro e político muito rico, que os contrata para resgatar a
jovem mexicana Maria, sua esposa, que fora raptada por Raza (Jack Palance,
1919-2006), um bandoleiro mexicano. A recompensa atraí “os profissionais”.
|
Lee Marvin é Fardan |
|
Robert Ryan é Ehrengard
|
|
Burt Lancaster é Dolworth |
|
Woody Strode é Jake |
Grant contrata quatro “profissionais” de
guerrilha para resgatar sua mulher. São eles: Fardan (Lee Marvin, 1924-1987) e
Dolworth (Burt Lancaster, 1913-1994), outrora adeptos de Raza; Ehrengard
(Robert Ryan, 1909-1973), um especialista em cavalos; e um caçador de
recompensas negro, Jake (Woody Strode, 1914-1994), que é perito em arco e
flecha. De repente, tudo parece se modificar, e os “profissionais” contratados
por Grant partem juntos com os homens de Raza, a luta continua contra um
adversário comum. A situação parece se inverter, mas na verdade esta apenas se
renovando à medida que a aventura desliza, ereta, em trânsito, para outras
façanhas. Entre um acordo fraudulento e a simpatia política pelos revolucionários,
os quatro “profissionais” não vacilam e escolhem a sua segunda chance. Aliás, é
a oportunidade da “segunda chance” o tema abordado nesta fita de Brooks, que
ele abordara em Lord Jim, mas que em Os Profissionais ele restaura não com tanto
manifesto como o fez na sua adaptação cinematográfica do livro de Joseph
Conrad, mas sim, categoricamente enquadrado. Como Lord Jim, Os Profissionais promovem
com a reviravolta final, a sua retratação ética.
|
Com Fardan não se brinca. |
|
A estratégia de Dolworth |
|
DIVULGAÇÃO |
O crítico inglês David Adams comparou Os Profissionais a Sete Homens e Um Destino, a conversão ao Western da coreográfica
violência de Os Sete Samurais, de
Akira Kurosawa. Entre os pontos de identidade entre os dois filmes, o ator
mexicano Jorge Martinez de Hoyos (1920-1997) em papel equivalente, o prólogo
apresentando em sua especialidade os heróis convocados para a missão; a música
de Maurice Jarre (1924-2009), recompondo a suíte mexicana de Elmer Bernstein; e
na trama, a recaptura de uma mulher em pleno deserto. Em vez dos “sete
magníficos”, quatro “profissionais” que são mercenários, aventureiros, “soldados
da fortuna”.
|
Claudia Cardinale & Lee Marvin |
|
O revolucionário Raza, vivido por Jack Palance, sendo cuidado por Maria |
|
DIVULGAÇÃO |
Os “Profissionais” agem juntos, mas cada um
tem uma personalidade. Dentre eles, o caráter de Dolworth (Lancaster) antagoniza
com a personalidade de Fardan (Marvin), e muito embora amigos, trava-se um
conflito entre os dois que irá conferir ao filme seu suplemento ideológico.
|
Jack Palance é Raza. |
|
Lee Marvin & Robert Ryan |
Mas é a categoria do elenco, que nem sempre
Hollywood pode reunir uma constelação de estrelas como se reuniu para a
composição desta fita, que dá equilíbrio a trama, e não deixou de ser de
propósito a escalação de Claudia Cardinale para o papel de Maria. Se Brooks
quis mesmo realizar um trabalho no gênero Western aos moldes dos cineastas europeus,
a convocação da atriz italiana não foi coincidência. O roteiro redigido por
Brooks, que nem sempre foi disciplinado a sua vocação literária, por sua vez
adaptou a novela de Frank O’ Rourke (1916-1989) intitulada A Mule for the Marquesa, e pôde colocar na boca da protagonista
feminina e do revolucionário Raza, vivido por Jack Palance, verdades românticas
e frases feitas, cuja função, na imagem ríspida da aventura, chega a ser
inadequada e postiça.
|
Woody Strode e Lee Marvin conversam durante uma folga das filmagens. |
|
A Bela italiana Claudia Cardinale num Western americano |
|
Robert Ryan como Ehrengard em ação |
Talvez essa deficiência na estruturação dos personagens com a linha
política não entrava, porém, a marcha indômita dos “Profissionais” não diminui
a tensão, a tenacidade, e o ritmo tão bem enquadrados num bom espetáculo de
ação. A partir desta obra é que os cineastas americanos passaram a inovar o bom
e tradicional cinema de faroeste, afinal, não queriam perder o terreno para os
italianos. Seja como for, passados quase 60 anos de seu lançamento, Os
Profissionais foi a resposta americana para os então producentes faroestes
italianos que vigorava na moda, sendo até hoje capaz de prender o espectador,
mesmo o mais jovem, pois expressa o perfeito domínio do cineasta Richard Brooks
e o dos astros Burt Lancaster, Lee Marvin, Robert Ryan, Woody Strode, Jack
Palance, e claro, Claudia Cardinale, sobre as leis do espetáculo e o avanço do
tempo.
|
Jack Palance em OS PROFISSIONAIS (1966) |
|
Marie Gomez é Chiquita, uma revolucionária a serviço de Raza |
|
Divulgação de OS PROFISSIONAIS nas salas do Rio de Janeiro, pelos jornais. O CINE ODEON, ainda de pé na Cinelândia, foi uma das salas a abrigar o espetáculo. |
FICHA TÉCNICAOS
PROFISSIONAIS
(The Professionals)
Título Original – The
Professionals
Ano – 1966
Direção – Richard Brooks
Produção - Richard Brooks para Columbia (distribuição)
Roteiro – Richard Brooks e Frank O’ Rourke, baseado no livro A
Mule for The Marquesa, de Frank O' Rourke.
Gênero - Western
País- Estados Unidos
Fotografia - Conrad Hall (em cores)
Música - Maurice Jarre
Metragem - 117 minutos
ELENCO
Lee Marvin - Henry "Rico" Fardan
Burt Lancaster - Bill Dolworth
Robert Ryan - Hans Ehrengard
Woody Strode - Jake Sharp
Jack Palance – Jesus Raza
Ralph Bellamy - J.W. Grant
Claudia Cardinale - Maria
Maria Gomez - Chiquita
Joe De Santis - Ortega
Jorge Martinez de Hoyos - Eduardo
Padilla
Carlos Romero – Revolucionário
Vaughn Taylor - Revolucionário
Don Carlos – Bandido
Roberto Contreras – Bandido
Nelson Sardelli – Revolucionário de Raza