O Cineasta Nicholas Ray. |
Nicholas Ray e o produtor associado Herbet J. Yates acompanhando com a estrela Joan Crawford a leitura do script. |
Joan Crawford é Vienna, uma mulher de temperamento forte, uma heroína. |
Mercedes McCambridge é Emma Small, arqui-inimiga de Vienna. Uma mulher frustrada, paranoica, que para destruir Vienna... |
... usa ilicitamente da autoridade do delegado Williams (Frank Ferguson) e dos donos de terra, liderados por John McIvers (Ward Bond). |
Emma merece um estudo acurado. Ela é uma mulher madura e
solteirona, que culpa Vienna pela morte do irmão mais novo. Mas o motivo é bem
outro, pois em verdade ela é apaixonada pelo bandido Dancin Kid (Scott Brady,
1924-1985), amante de Vienna. Uma paixão não correspondida que faz de Emma uma
mulher frustrada, que vê no mundanismo e na feminilidade da inimiga uma
agressão ao sentido de sua existência condicionada em meio ao ambiente rude e
violento. Ray sempre confessou que gostaria de ter aprimorado mais a personagem
de Mercedes McCambridge, que a compreendeu muito bem pelo quadro da ação como
uma fera pronta para o ataque.
Vienna é protegida pelo violeiro Johnny Guitar (Sterling Hayden), antigo amor do passado... |
... e pelo atual amante, Dancin Kid (Scott Brady). Contudo, Vienna ama Guitar. |
Vienna, já à contrária de Emma, é segura e vigilante, e muito
embora se relacione com Dancin Kid, ela não é apaixonada por ele, mas sim por
Johnny Guitar (Sterling Hayden, 1916-1986), um amor do passado que chega ao
Arizona já dizendo para que veio: proteger a vida da amada e seu
estabelecimento de jogo. Guitar, que na localidade assume o nome de Logan, é um
violeiro, mas Vienna conhece muito bem seu passado de pistoleiro e rápido no
gatilho, e ela acaba contratando-o como seu segurança.
Dancin Kid lidera um pequeno bando, onde despontam o grosseiro Bart Lornegan (Ernest Borgnine), o adolescente Turkey Ralston (Ben Cooper), ... |
... e o tuberculoso Corey, vivido pelo excelente Royal Dano. |
Bart logo percebe que não deve provocar Johnny Guitar depois de perder uma briga. |
Johnny Guitar enfrenta McIvers, observado por Vienna e Dancin Kid. |
Johnny Guitar é o herói calmo e de sangue frio, ativo, ágil e violento, cuja personalidade vigorosa é destacada por Sterling Hayden. |
Divulgação |
Dancin Kid e Bart Lornegan. |
Joan Crawford e Sterling Hayden em JOHNNY GUITAR (1954) |
Em sua última entrevista, concedida a Kathryn Bigelow e Sarah Fatima Parsons, na Cinematographe Magazine, realizada em maio de 1979, mas publicada em julho do mesmo ano, portanto um mês depois de sua morte, Nicholas Ray foi questionado por uma das jornalistas:
Durante as filmagens de
Johnny Guitar, eu li que você trazia flores para Mercedes McCambridge, mas não
para Joan Crawford, ou vice-versa, apenas para criar uma tensão entre elas. É
verdade?
O cineasta respondeu:
Uma noite, Joan
Crawford ficou bêbada e jogou as roupas de Mercedes McCambridge na estrada. Ela
era uma ótima atriz, mas às vezes a raiva tomava conta de seu temperamento.
Elas eram muito diferentes e Crawford odiava McCambridge.
Joan Crawford e Nicholas Ray. |
No catálogo da mostra O
Cinema é Nicholas Ray (Centro Cultural Banco do Brasil-CCBB; pg. 34), há uma nota do crítico de cinema Ely
Azeredo que acompanha a republicação de sua crítica de Johnny Guitar, na qual diz que as “correntes de sexualidade e
política”, contidas no filme, “passaram praticamente despercebidas na época do
lançamento”. O crítico observa:
A alegada bissexualidade
de Ray facilitaria – driblando as censuras – que o ângulo histérico da trama
fluísse a partir da tensão sexual entre Vienna e Emma. Apesar da sinalização
heterossexual entre elas e “seus” pistoleiros, a libido não se esconde no
conflito de poder entre as duas personagens.
Na mesma nota, Azeredo traz uma informação interessante:
Na época (do lançamento do filme, em 1955) não se sabia que a história chegou às mãos
de Nicholas Ray depois de comprada por Joan Crawford; nem que os dois haviam
sido amantes.
Johnny Guitar (1954) de Nicholas Ray |
Em sua crítica na Tribuna
da Imprensa, em agosto de 1955, Azeredo diz que Crawford “é apenas uma
charge, sem espírito, de seus grandes dias”. Já para o crítico e cineasta
François Truffaut, em Os Filmes da Minha
Vida (Editora Nova Fronteira; pg. 179), sobre a atriz:
Está fora dos limites
da beleza. Tornou-se irreal, como o fantasma de si própria. O branco invadiu
seus olhos, os músculos seu rosto. Vontade de ferro, rosto de aço. Ela é um
fenômeno. Viriliza-se ao envelhecer. Sua interpretação crispada, tensa, levada
ao paroxismo por Nicholas Ray, é por si só um estranho e fascinante espetáculo.
Capa da edição em VHS lançada no Brasil em 1989, pelo selo Republic - Paris Vídeo. Acervo de Paulo Telles. |
O saudoso crítico Rubens Ewald Filho (1945-2019), em sua resenha sobre JOHNNY GUITAR para o site UOL Cinema, aponta que Nicholas Ray sempre declarou que o sub-texto era lésbico, que Emma e Vienna haviam sido amantes e agora se enfrentavam como inimigas. Até porque na vida real, as duas estrelas, Crawford e McCambridge eram realmente inimigas e, ambas, alcoólatras.
Mercedes McCambridge em um grande papel. |
O confronto final entre Emma e Vienna. |
JOHNNY GUITAR, em divulgação nos jornais em início de 1970 no Rio de Janeiro, em reprise nas três salas do Art Palácio, então existentes. Bons Tempos! |
JOHNNY GUITAR é um western que não se deixa levar aos clichês do gênero, sendo concebido por um sentido exótico, poético, sofisticado e por uma fixação intelectual evidente em tão requintado roteiro de Philip Yordan, que nos remete a tragédia. Sem dúvida, merece integrar entre os críticos e cinéfilos como um dos dez maiores westerns do cinema, sendo um dos filmes mais idolatrados pelos críticos franceses e pelos cineastas da nouvelle vague, e um dos trabalhos mais notáveis e admiráveis do cineasta Nicholas Ray.
O Mestre Victor Young compôs a trilha sonora. |
A cantora Peggy Lee quem interpretou a canção-tema. |
POSTER ORIGINAL |
Ano – 1954
País – Estados Unidos
Gênero - Western
Direção – Nicholas Ray
Produção – Nicholas Ray para Herbert J.
Yates e Republic Pictures Produções.
Roteiro – Philip Yordan, com base no
romance de Roy Chanslor.
Fotografia - Harry Stradling, em cores.
Montagem - Richard L. Van Enger.
Música – Victor Young, com
interpretação de Peggy Lee.
Metragem – 110 minutos
Ward Bond e Mercedes McCambridge. |
Joan Crawford – Vienna
Sterling Hayden – Johnny “Guitar” Logan
Mercedes McCambridge – Emma Small
Scott Brady – Dancin Kid
Ward Bond – John McIvers
Ben Cooper – Turkey Ralston
Ernest Borgnine – Bart Lonergan
Royal Dano – Corey
John Carradine – Old Tom
Paul Fix – Eddie
Frank Ferguson – Delegado Williams
Rhys Williams – Sr. Andrews
Ian MacDonald – Peter
Trevor Bardette – Jenkins
Denver Pyle – Posseman
Will Wright - Ned