O
nome de Cecil B. DeMille (1881-1959) ficou para sempre associado às
superproduções da Sétima Arte, sendo sinônimo de suntuosidade quando se trata
de grandes espetáculos. Entretanto, até 1952, quando dirigiu e produziu O Maior Espetáculo da Terra (The Greatest Show
On Earth), foi o filme que mais rendeu-lhe honras, tanto por parte da
crítica quanto da opinião pública. De forma grandiosa e impressionante, foi até
aquele momento o maior êxito comercial do veterano cineasta em toda sua longa
carreira, arrecadando só no mercado norte-americano 14 milhões de dólares,
conquistando o Oscar de melhor filme e argumento de 1952, e ainda o Prêmio
Irving Thalberg para DeMille.
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O Lendário Diretor Cecil B. DeMille |
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O diretor iniciando o preparo das filmagens |
Foi o
penúltimo título da filmografia deste grande diretor, iniciada na fase ainda
silenciosa do cinema, em 1913, e terminada em 1956, quando dirigiu outro grande
espetáculo, Os Dez Mandamentos. Mas
para poder realizar a proeza de dirigir tamanha obra a altura do seu título
original, a Paramount pagou aos empresários John Ringling North (1903-1985) e
Henry Ringling North (1909-1993), os donos do famoso Ringling Brothers & Barnum & Bailey, considerado então o
mais famoso circo do mundo, a quantia de 250 mil dólares pelo uso da marca e
pela cessão de artistas.
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DeMille em seu escritório, entre projetos e roteiros. |
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DeMille e alguns artistas do Ringling Brothers e Barnum & Bailey. |
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Cecil e sua estrela Betty Hutton. |
O filme pode
ser espalhafatoso, como a maioria dos épicos de DeMille, mas aqui tudo
funciona. Mas o que é o circo a não ser uma combinação de luzes, fantasias, e
cores? Naturalmente, alguns críticos não foram tão clementes para com o
cineasta. Segundo a revista Time Magazine,
DeMille reforça sua reivindicação para outra distinção: "A Grande amostra da Terra provavelmente será
vender mais pipocas do que qualquer filme feito". Outros críticos
acharam que o filme era banal e com uma estúpida história de amor. O New York Times respondeu a favor do
veterano diretor: "A história
romântica é reflexo do romance diário da realidade do circo".
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Charlton Heston e Cecil B. DeMille. |
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Brad (Heston), Holly (Betty Hutton) e Sebastian (Cornel Wilde): Um provável triangulo amoroso. |
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Charlton Heston e um dos empresários do Ringling Brothers, John Ringling North. |
O filme
poderia se sair melhor sem o apelo romântico do diretor para com os personagens
de Charlton Heston e Betty Hutton, e o tendencioso triângulo amoroso entre os
dois com Cornel Wilde, e isto sendo opinião de outros críticos, que acham que o
circo não passa de uma meretriz um tanto conveniente para os personagens.
DeMille não concordou com essa visão, mas tinha razão numa coisa: transformar
sua fita numa novela de dimensões teatrais era tarefa para atrair o público para os cinemas, e foi isso que aconteceu, quando O Maior Espetáculo da Terra bateu recorde nas bilheterias.
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Ramon Gomez de La Serna, o "primeiro" Crítico de Circo. |
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James Stewart como o carismático palhaço Buttons
Com toda a
certeza, quem poderia nos falar da poesia do circo (sim, o circo não é só um
espetáculo de entretenimento, mas como o cinema, também é uma arte) seria Ramon
Gomez de La Serna (1888-1963), famoso escritor espanhol, inventor das famosas greguerias, uma espécie de varieté do humor, e que foi também o “primeiro”
cronista de circo (e de certo, o
único). Quando assistimos a O Maior
Espetáculo da Terra, se reflete que só mesmo o espanhol La Serna poderia
fazer uma crônica do jeito que o filme mereceria, afinal, toda a atmosfera do
circo impregna inteiramente na fita, nos transbordando para o mundo maravilhoso
e fascinante do circo, nos impedindo ao mesmo tempo de falar sobre ele com
nossa prosa cotidiana, e muitas vezes, banal.
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Brad Braden (Charton Heston) e palhaço Buttons (James Stewart). |
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Além do Oscar conquistado por melhor filme de 1952, Cecil B. DeMille recebe das mãos do ator Henry Wilcoxon (que com o diretor também produziu o filme) o prêmio Irving Thalberg. |
Uma obra
prima de proporções à altura de seu diretor, vista por todos os ângulos em que se
queira apreciar este celuloide de sucesso, vindo de um cineasta experiente, o
Mestre do Espetacular. Com O
Maior Espetáculo da Terra, o bom e velho DeMille chegou ao apogeu de sua
carreira e de sua arte. Pode ser verdade que o venerando diretor tenha sempre
preferido o cinema mais como diversão do que propriamente como arte, ou melhor
dizendo, que tenha condicionado sempre ao longo de sua prolífica carreira a
arte cinematográfica ao primado do divertimento.
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Jimmy Stewart (o palhaço Buttons) e o palhaço mais aplaudido da América, Emmett Kelly. |
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Na Plateia, Bob Hope e Bing Crosby. |
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Dorothy Lamour e Gloria Grahame, "artistas" do Ringling Brothers. |
Cecil pode ter
cometido erros (e quem não os comete?), ter se enganado duas, dez vezes,
através de sua copiosa obra de cinema. Contudo, tudo isto é perdoado e deixado
de lado quando um diretor de idade provecta, que poderia estar aposentado (e
que levaria sua função as ultimas consequências, quando em 1956, ao
dirigir Os Dez Mandamentos, com 77 anos, DeMille sofreu um ataque cardíaco durante as filmagens no Monte Sinai, mas
se recuperou e voltou à ativa) consegue realizar uma película como O Maior Espetáculo da Terra, onde a
técnica, a arte, e os valores humanos se combinam na mais perfeita química.
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A atriz Helen Hayes visitou o set durante as filmagens. |
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Betty Hutton e Gloria Grahame, que disputam o afeto do patrão Brad. |
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Gloria Grahame é Angel, uma domadora de elefantes. |
Isso sem
perder de vista o espetacular, nem o sentido de evasão do cotidiano que o
cineasta imprime em todos os seus filmes, certo de que a multidão ingresse nas
salas de cinema para fugir a realidade do ambiente, sem esquecer o toque
poético no lirismo que transborda no próprio assunto: o circo – esta, por si, uma poesia do encanto e do mistério, e acima de todos os valores, nota-se a
atmosfera, através de seus artistas humanos e sublimemente poéticos. A partir
daí, o diretor nos transporta ao ambiente e passamos a viver em pleno
circo. É através desse clima que todo
espectador ao assistir a este penúltimo trabalho de Cecil B. DeMille se torna
também participante da obra, tal como os espectadores dos atos a que vamos
assistindo ao longo da trama (que tem 152 minutos de projeção) e que é a ante face do outro espetáculo, aquele que não se desenrola no picadeiro, mas na
existência dos artistas do circo, dos palhaços, dos trapezistas, da moça do
elefante, do domador de leões, enfim.
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Divulgação |
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A atlética Betty Hutton treinou muito no trapézio para viver Holly |
Se
DeMille conseguiu o máximo da manipulação de seus efeitos, um dinamismo
plástico extraordinário, que segue num ritmo ágil e vibrante, e que por toda a
fita, em perfeita harmonia, conduz como ninguém suas grandes manobras com
multidões (sim, DeMille era craque em dirigir cenas de multidão), por outro
lado seu sentimento épico, tanto linear e profundo tirou de seu elenco all-star um rendimento efetivo dos mais
convincentes.
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Brad Braden (Charlton Heston) e sua namorada, a trapezista Holly (Betty Hutton) |
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Holly implora ao namorado e patrão Brad para ser a estrela do picadeiro central. Mas para segurança e investimento do espetáculo, Brad contrata o "Grande Sebastian" (Cornel Wilde). |
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A domadora de elefantes Angel (Gloria Grahame) tem uma queda pelo patrão Brad (Charlton Heston). |
A trama se concentra num dos maiores circos do mundo, o Ringling Brothers –Barnum & Bailey. Seu gerente é o jovem Brad
Braden (Charlton Heston, 1923-2008), que anda cheio de problemas. O negócio anda fraco, e
para piorar, um empresário inescrupuloso e meio gangster, Mr. Henderson (Lawrence Tierney, 1919-2002) quer comprar o
circo abaixo do preço. A namorada de Brad, a trapezista Holly (Betty Hutton,
1921-2007), entende que a preocupação dele é fazer o espetáculo continuar e se
consagrar exclusivamente para o trabalho. Entretanto, quando Brad resolve
contratar outro trapezista, o astro francês “O Grande Sebastian” (Cornel Wilde,
1915-1989) para substituir Holly no picadeiro central, esta não aceita.
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O ousado e arrogante trapezista Sebastian... |
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Que sofre uma queda quase fatal, que o deixa com o braço paralisado, acudido por Brad e Buttons. |
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Angel e o domador Klaus, que tem pela artista uma paixão não correspondida. |
Arrogante e
ousado, Sebastian acaba sofrendo uma dramática queda, e Holly fica a balançar o
coração por ele e Brad. Toda essa atuação é explorada pela domadora de
elefantes Angel (Gloria Grahame, 1924-1981, em papel destinado para Lucille
Ball, que desistiu porque engravidou), que também cobiça Brad. Isso vem a
provocar ciúmes no treinador Klaus (Lyle Bettger, 1915-2003). Este acaba sendo demitido por Brad. Outra
trama paralela envolve o palhaço Buttons (James Stewart, 1908-1997), na
realidade, um médico que nunca tira sua maquiagem, pois é procurado por um agente
do FBI (Henry Wilcoxon, 1905-1984) pelo crime de eutanásia (matou a própria
mulher que sofria de uma doença incurável).
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Holly se sente atraída por Sebastian, mesmo amando Brad. |
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O terrível desastre de trem onde viajavam todos os artistas do circo. |
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Entre os feridos, Brad encontra-se em estado mais grave, e precisará de uma transfusão de sangue. |
Ambas as tramas paralelas tem um fim em comum: um
espetacular desastre do trem que conduz o circo, desastre
este provocado pelo ex-adestrador de elefantes Klaus, que tem morte trágica. Este
acidente vem a provocar a descoberta da verdadeira identidade do palhaço Buttons,
quando percebe-se que ele é o único médico para atender os feridos, entre os
quais encontra-se Brad.
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Sabendo do passado de Buttons, um outrora médico que matou a esposa por eutanásia e que esta sendo procurado pelo FBI, Holly implora ao amigo que salve a vida de Brad. |
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Na metade da década de 1960, James Stewart voltou a se maquiar como Buttons, em um evento beneficente. Notem atrás do ator o poster do filme A História de Dr. Wassell, filme dirigido por Cecil B.DeMille e com Gary Cooper.
Esta
obra de Cecil B.DeMille apresentou um dos grandes desastres de trem em toda a
história das telas, somente equiparado à outra superprodução, A Conquista do Oeste (How The West Was Won),
em 1962. Embora o Western dirigido por John Ford, Henry Hathaway e George
Marshall, usasse trens reais para as cenas de ação, O Maior Espetáculo da Terra
usou de modelos de miniaturas pertencentes ao diretor, hoje um efeito um tanto ineficaz,
mas para a época foi de impressionar. Como em todos os filmes do diretor, não é
a história que conta e sim o espetáculo, e o cineasta conseguiu construi-lo em
2 horas e 32 minutos de duração, bem ao gosto da típica família americana dos
anos de 1950 (o espectador de hoje deve assistir como se transportasse para
este tempo. Muitos padrões de
moralidade e conduta vieram a desabar, e o público na ocasião era outro).
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O Famoso palhaço norte-americano Emmett Kelly. |
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Os palhaços Buttons e Emmett. |
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Buttons fazendo a alegria da criançada. |
Foi o último
filme que DeMille fez em três tiras de Technicolor. No entanto, em termos de
realidade cinematográfica, é uma impressionante nota de rodapé. Uma câmera
dirigível de DeMille era do tamanho de uma mesa. O “garoto” Charlton Heston,
como era carinhosamente chamado pelo diretor, lembrou o que certa vez DeMille
lhe disse: "Você estará realmente
empreendendo algo se você fizer um take de rastreamento com um daqueles bebês
(as câmeras)".A
película é recheada de grandes astros e com artistas de circo de verdade, como
o maior palhaço americano Emmett Kelly (1898-1979), e entre os espectadores do
circo estão Bing Crosby (1904-1977) e Bob Hope (1903-2003), e no picadeiro, o
cowboy Hopalong Cassidy, vivido por William Boyd (1895-1972), amigo pessoal de
DeMille. Enfim, todo o filme é perfeito,
graças à direção e a atuação dos atores, principalmente Jimmy Stewart, que como
o dramático palhaço faz lembrar uma pintura viva de aquarela, que aparece sempre
como uma pincelada de vermelho.
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Divulgação pelos jornais cariocas |
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DeMille e William Boyd, o famoso Hopalong Cassidy, que aceitou o convite para uma pequena participação. |
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O filme em divulgação nas grandes salas do Rio de Janeiro, na metade dos anos de 1950.
E certamente,
DeMille nos legou uma obra prima, um filme sensacional que veio a marcar não
somente sua carreira, mas que com o Oscar conquistado por Melhor Filme de 1952, marcou
no cineasta uma extraordinária vitória em sua vida. O Maior Espetáculo da Terra pode assim ser definido como arte
cinematográfica e como espetáculo. Música de Victor Young (1900-1956).
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DIVULGAÇÃO |
Ano de Produção: 1952
País: Estados Unidos
Gênero: Drama
Direção: Cecil B.
DeMille
Produção: Cecil B.
DeMille e Henry Wilcoxon, para a Paramount.
Argumento: Fredric M.
Frank, Theodore St. John, Frank Cavett.
Roteiro: Fredric M.
Frank, Barré Lyndon, Theodore St. John.
Fotografia: George
Barnes – em Cores
Montagem: Anne
Bauchens
Direção de Arte: Hal
Pereira e Walter H. Tyler
Figurinos: Edith
Head, Dorothy Jeakins, e Miles White
Música: Victor Young
Metragem: 152 minutos
Betty Hutton – Holly
Cornel Wilde – O
Grande Sebastian
Charlton Heston –
Brad Braden
James Stewart –
Palhaço Buttons
Dorothy Lamour –
Phyllis
Gloria Grahame –
Angel
Henry Wilcoxon –
Agente Gregory, FBI
Lyle Bettger – Klaus
Lawrence Tierney –
Mr. Henderson
Emmett Kelly – ele
mesmo.
John Kellogg – Harry
Frank Wilcox – Médico
da trupe
Lillian Albertson –
Mãe de Buttons
Julia Faye – Birdie
PARTICIPACOES
ESPECIAIS
Bing Crosby
Bob Hope
William Boyd
(Hopalong Cassidy)
CECIL B.DeMILLE
como narrador.
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