Uma gangue, fugitivos da polícia, apossam-se de um recinto fechado, geralmente
ocupado por pessoas completamente alheias ao conflito estabelecido. Essa foi a
fórmula usada em Floresta
Petrificada (1936, direção de Archie Mayo), que deu origem a outros filmes do
gênero gangster, mas que não passavam de variações em torno de uma mesma temática policial. Evidentemente, com honrosas exceções, como Paixões
em Fúria em 1948 e direção de John Huston, onde nunca conseguiram
ultrapassar a produção rotineira, limitando-se
a oferecer ao espectador algumas emoções primárias, como assassinatos a sangue frio e torturas (com requintes de crueldade e sadismo), sem preocupar-se com a análise humana e seus tipos, tampouco com suas reações diante dos
acontecimentos apresentados.
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O Cineasta William Wyler. |
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O Diretor William Wyler, conversando com seu astro, Humphrey Bogart
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HORAS DE DESESPERO (The Desperate Hours), produzido em 1955, extraído de peça de Joseph Hayes
(1918-2006) - que também elaborou o roteiro - levou o produtor e diretor
William Wyler (1902-1981) a partir de elementos basicamente semelhantes, dando brecha ao estudo acurado do perfil psicológico daqueles
que quebraram regras na sociedade e são obrigados a pagar sua dívida na prisão,
e quando elas estão novamente a solta, elas tendem a repetir as mesmas más ações
que a levaram presas. Com Horas de Desespero, Wyler abriu o caminho
do thriller psicológico.
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William Wyler, ao lado de Bogart, dirigindo HORAS DE DESESPERO (1955).
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O cineasta Wyler introduziu a partir daqui dois elementos que
até então eram desconhecidos nos filmes criminais: o desprezo pela atmosfera
realista, substituindo pelo que poderia intitular-se de “realismo cinematográfico”,
ou seja, a junção de elementos elaborados no sentido de obter uma atmosfera
própria, independente ou não do que seria na vida real - e também, a
valorização das reações psicológicas de cada personagem em vez de explorar
visualmente os incidentes da trama. Indubitavelmente, a obra de Wyler foi
extraordinariamente enriquecida do ponto de vista da pessoa humana, perdendo um
pouco em elasticidade e ação, pela necessidade de retardar a movimentação não
só dos atores, mas também da própria câmera, a fim de que esta pudesse obter concentração
dramática na história, em um verdadeiro exercício de tensão e suspense psicológico.
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HORAS DE DESESPERO (1955) registrou o penúltimo trabalho de Humphrey Bogart nas telas. |
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Fredric March e Bogart: Duelo de Interpretações. |
A
TRAMA
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DIVULGAÇÃO |
Obviamente,
este exercício de tensão não seria possível se não contássemos com atores de
excepcional gabarito, em um magnífico duelo de interpretação: Humphrey Bogart
(1899-1957) e Fredric March (1897-1975). HORAS DE DESESPERO registrou o penúltimo
trabalho de Bogart no cinema, e versa sobre três presidiários em fuga – Glenn
Griffin (Bogart), seu irmão Hal (Dewey Martin, 1923-2018), e Sam Kobish (Robert Middleton,
1911-1977) – que acabam se refugiando numa casa de família classe média, os
Hilliard, composto pelo pai, Dan (March), a mãe Eleanor (Martha Scott,
1912-2003), a filha Cindy (Mary Murphy, 1931-2011), e o filho pequeno Ralphie
(Richard Eyer), fazendo todos de reféns e exigindo dinheiro suficiente para que
possam prosseguir na fuga.
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DIVULGAÇÃO |
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O criminoso Glenn Griffin (Bogart) rende uma família inteira dentro de sua própria casa após fugir da prisão com seus comparsas. |
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Para não despertar desconfianças na vizinhança, os criminosos permitem que a família mantenha sua rotina na maior normalidade.
Para evitar desconfianças, os três foragidos permitem que Cindy
encontre o noivo, Chuck Wright (Gig Young, 1913-1978), e Dan a continuar
trabalhando em seu escritório normalmente, enquanto que Eleanor e Ralphie são
mantidos na casa como reféns. Dan tem a preocupação de atender aos pedidos dos
meliantes, pois teme ver sua família ferida, mas Ralphie não aceita a submissão
do pai e vê isto como um sinal de covardia. Mas Dan acaba enfrentando a
situação de cabeça erguida, enquanto Glenn e seus capangas se mantêm na casa
aguardando o dinheiro para continuarem a fuga. É quando Chuck, desconfiado do
comportamento da namorada Cindy, avisa a polícia, entrando em ação o inspetor
Jesse Bard (Arthur Kennedy, 1914-1990) com uma diligência para poder livrar a
família do terror e capturar os criminosos.
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Os Hilliard: O patriarca Dan (Fredric March), a esposa Eleanor (Martha Scott) e a filha Cindy (Mary Murphy). |
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Dan e o filho caçula, Ralphie (Richard Eyer), explicando para o menino o perigo que rondeia. |
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Sam Kobish (Robert Middleton), um dos criminosos a postos, durante a visita de Chuck (Gig Young) à sua namorada Cindy (Mary Murphy) na casa. |
HORAS
DE DESESPERO é um filme surpreendente que comprova a extraordinária habilidade do diretor
William Wyler em concentrar o suspense praticamente num único espaço (como
fizera antes em Chaga de Fogo, com
Kirk Douglas, em 1951), e fazer dele um ambiente rico na construção das
relações humanas. Isto porque em seu prólogo já assistimos o menino que quer
ser tratado como homem maduro (esbraveja ao ser chamado de Ralphy, no diminutivo), recusando o beijo do pai e exigindo-lhe um
aperto de mão, e isso tudo durante o rotineiro café da manhã. O que é brilhante
na direção de Wyler é a contraposição logo em seguida ao
“infantilizar” a própria filha que pretende se casar: “Ela é só uma menina“, afirma Dan em uma das sequencias.
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Da esquerda para a direita: Os bandidos Glenn Griffin (Bogart), seu irmão caçula Hal (Dewey Martin), Sam (Robert Middleton) - e os Hilliard. |
O
ELENCO
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CAST |
A
atuação de Humphrey Bogart como um frio e cruel assassino que arrisca sua volta
à prisão apenas pelo desejo de vingar-se de um policial que o prendeu e sua
firme determinação tem sido considerada como uma das mais marcantes interpretações de sua carreira. Fredric March, sempre um ótimo ator e um dos mais brilhantes talentos cinematográficos de seu tempo, superou seus trabalhos anteriores no papel do pai que se vê na contingência de confessar ao filho (Richard Eyer) seu medo diante da brutalidade dos criminosos.
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Martha Scott como Eleanor Hilliard. |
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Richard Eyer como Ralphie Hilliard. |
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O Inspetor de Polícia Jesse Bard (Arthur Kennedy) que aciona diligências para entrar na casa e salvar os Hilliard.
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Os demais que merecem destaques são: Robert Middletton como
o criminoso mais perverso e boçal do bando; Dewey Martin no papel do irmão mais moço do líder (Bogart), como um jovem inexperiente que sente-se atraído por Cindy; O sempre ótimo Arthur Kennedy, impecável como o inspetor de polícia que investiga a ameaça na casa dos Hilliard - a admirável Martha Scott como Eleanor, e a jovem Mary Murphy (de O Selvagem, 1953, com Marlon Brando) como Cindy, minuciosamente trabalhados pelo Mestre Wyler, que sabia valorizar ao máximo seus atores, chama atenção para suas interpretações.
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Robert Middleton como o mais cruel do bando. |
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Gig Young como o namorado de uma das vítimas. Ele percebe o perigo e avisa aos policiais. |
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Dan vira a mesa, e domina Glenn Griffin e todo o seu bando. |
A
fotografia de Lee Garmes (1898–1978), num preto & branco rico de
tonalidades, e a música de Gail Kubik (1914–1984), estão em harmonia com um filme que se impõe como um dos mais perfeitos thrillers de todos os tempos. Vinte e cinco anos depois, em 1990, a mesma história teria um remake na direção de Michael Cimino, com
nomes de personagens alterados, e tendo Mickey Rourke e Anthony Hopkins nos
papéis vividos respectivamente por Bogart e March na versão original.
Entretanto, mesmo com a presença marcante destes dois grandes atores, a
refilmagem não teve sucesso. HORAS DE DESESPERO estreou nas salas do Rio
de Janeiro em outubro de 1956, repetindo o êxito de crítica e público como no mercado norte-americano.
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DIVULGAÇÃO |
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Divulgação do filme pelos jornais do Rio de Janeiro, durante sua estreia nas salas cariocas em outubro de 1956.
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FICHA
TÉCNICA
HORAS
DE DESESPERO
(The Desperate Hours)
País – Estados
Unidos
Ano de
Produção – 1955
Direção -
William Wyler
Gênero –
Drama/suspense criminal
Produção – William Wyler, para a Paramount Pictures.
Roteiro –
Joseph Hayes, baseado em sua peça teatral.
Fotografia –
Lee Garmes, em Preto & Branco.
Figurino –
Edith Head
Música - Gail
Kubik
Metragem –
112 minutos.
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DIVULGAÇÃO |
ELENCO
Humphrey Bogart - Glenn Griffin
Fredric March - Dan C. Hilliard
Arthur Kennedy - Inspetor Jesse Bard
Martha Scott - Ellie Hilliard
Dewey Martin - Hal Griffin
Gig Young - Chuck Wright
Mary Murphy - Cindy Hilliard
Richard Eyer - Ralphie Hilliard
Robert Middleton - Sam Kobish
Alan Reed - Detetive
Bert Freed - Tom Winston, auxiliar
de Bard
Ray Collins - Xerife Masters
Paul Salata - Xerife
Whit Bissell - Agente Carson do FBI
Ray Teal - Tenente
da Polícia Estadual Fredericks
Michael Moore - Detetive
Don Haggerty - Detetive
Walter Baldwin - Patterson
Ann Doran - Sra. Walling
Edmund Cobb - Sr. Walling
Beverly
Garland - Srta. Swift
Matéria publicada originalmente no blog "Filmes Antigos Club - A Nostalgia do Cinema" em Julho de 2016 por Paulo Telles