sexta-feira, 29 de setembro de 2023

A Última Esperança da Terra (1971): Charlton Heston Como o Último Herói da Humanidade


Divulgação

Charlton Heston (1923-2008) mais uma vez é o representante final da espécie humana. Como fora em O Planeta dos Macacos (1968) e depois em No Mundo de 2020 (1973), Heston no papel do cientista militar - Dr. Robert Neville – acredita ser o único sobrevivente de uma guerra bacteriológica entre a União Soviética e a China em 1975. Encontramos o Dr. Neville em 1977 numa Los Angeles deserta, vivendo em seu apartamento de cobertura, cercado de luxo e de um verdadeiro arsenal. As armas tem função de desafiar os mutantes que sobreviveram à fúria nuclear e agem como vampiros, que sofrem de fotofobia e saem pela escuridão da noite para queimar tudo que restou da cultura humana e fazer guerra contra a herança tecnológica representada pela presença de Neville.  Todas as noites, os mutantes reaparecem para queimar livros, destruir pinacotecas e vestígios de progresso, numa verdadeira orgia de encenação medieval contra tudo que significou o apogeu da ciência e do progresso.

Edição especial e americana do livro I Am Legend, de Richard Matheson, com base na produção A ÚLTIMA ESPERANÇA DA TERRA (1971)

O escritor Richard Matheson. 
Assim é o enredo de A ÚLTIMA ESPERANÇA DA TERRA (The Omega Man), realizado em 1971 pelo diretor Boris Sagal (1923-1981), cujo argumento foi adaptado da novela I Am Legend (Eu sou a Lenda), de Richard Matheson (1926-2013), com a qual esse celebrado escritor de ficção científica conquistou a medalha de ouro de literatura nos Estados Unidos em 1954.  Em realidade, THE OMEGA MAN é remake do livro de Matheson, pois a mesma trama havia sido levada ao cinema em 1963 por Sidney Salkow, com o título de Mortos que Matam (The Last Man on Earth), com Vincent Price. E mais tarde, em 2007, refilmado como Eu Sou a Lenda (I am Legend), de   Francis Lawrence, com Will Smith.

Charlton Heston como o Dr. Robert Neville, o único sobrevivente de um ataque bacteriológico que dizimou a Terra...
... sozinho em uma Los Angeles deserta...
...mas será que está mesmo só?
Os mutantes/vampiros (conhecidos como “A Família”) desaparecem nas horas do dia, enquanto Neville busca seus meios de subsistência nas lojas semidestruídas de alimentos, nas farmácias e nas butiques de elegância masculina, isto é, o cientista tem tudo a sua disposição quando bem quer, desde as lojas, os hotéis, e até mesmo as salas de cinema, onde ele mesmo próprio projeta os filmes que assiste. São nessas ocasiões em que ele procura descobrir o esconderijo do líder dos mutantes, Matthias (Anthony Zerbe), cujos seguidores reaparecem à noite para tentar atacar Neville e tudo que sobrou da ciência. Para Matthias, todo progresso foi responsável pela ruína da Terra e o único representante ainda vivo da ciência (no caso, Neville) precisa ser exterminado.  O cientista tem tudo registrado em seu gravador portátil e anota em seu diário todos os movimentos dos mutantes.  Na descrição desta atmosfera, A Última Esperança da Terra se aproxima dos clássicos Os Últimos Cinco (1951, de Arch Oboler) e O Diabo, a Carne e o Mundo (1959, de Ranald MacDougall), que estampavam a solidão dos remanescentes da raça humana.

Neville rastreia os mutantes/vampiros, que agem a noite.
Neville em luta constante contra os mutantes.
Matthias (Antony Zerbe), o líder dos mutantes/vampiros (a "Família"). Ao seu lado, Zachary (Lincoln Kilpatrick), seu segundo em comando.
Entretanto, a narrativa logo se perde nos labirintos das aventuras mais padronizadas do gênero Sci-Fi, quando Neville acaba por descobrir outros sobreviventes humanos como ele. São o caso de Lisa (Rosalind Cash, 1938-1995) e Dutch (Paul Koslo, 1944-2019), que se mantinham as escondidas sem o conhecimento de Neville. Uma noite, o cientista é capturado pelos mutantes, e Lisa e Dutch salvam sua vida. Em contribuição, Neville cuida do irmão caçula de Lisa, Richie (Eric Laneuville), afetado pela bactéria e com risco de virar um dos mutantes. O médico e cientista explica a Lisa que pode salvar a vida do irmão, já que ele conserva uma vacina. Sendo imune, seu próprio sangue pode servir de soro para evitar a propagação da bactéria. Breve, Lisa, que é negra, tem um romance com Neville, numa óbvia mensagem antirracista.

O tribunal dos mutantes, também conhecido como "A Família".
Solitário, não resta a Neville "conversar" e "jogar xadrez" com um busto...
...até conhecer Lisa (Rosalind Cash) uma forte aliada de Neville contra os mutantes.
Paul Koslo é Dutch, um dos sobreviventes e aliados de Neville
A ÚLTIMA ESPERANÇA DA TERRA tem uma fascinante história, e o script de John William Corrington (1932-1988) e Joyce Hooper Corrington, apesar das concessões ou facilidades com o romântico e o suspense – indecisas entre a defesa de Neville, a relação entre este e Lisa, e a posição dos mutantes contra os perigos do passado, mesmo cometendo várias incoerências ou imprecisões, The Omega Man é um filme atraente, envolvida pela futurística trilha sonora do australiano Ron Grainer (1922-1981) e a fotografia de Russell Metty (1906–1978). Produção de Walter Seltzer (1914-2011).

Neville e Lisa enfrentarão os terrores do fim do mundo...
... e se apaixonarão.

A direção do renomado Boris Sagal , embora eficiente e segura, jamais consegue elevar o nível do romance de Richard Matheson, cuja técnica narrativa obtém nos seus melhores livros uma coerência entre mentes críveis e aceitáveis os argumentos fantasia e realidade torna-os perfeitamente fantásticos e metafóricos em suas histórias. O cineasta e os roteiristas não se aprofundaram bem no comportamento de Neville – o Homem Ômega do título original, começo e fim, que ao se fazer uma alusão a Jesus, acaba “crucificado” doando seu sangue não contaminado para a salvação da humanidade. 

Neville dominado pelos inimigos.

Seu sacrifício não foi em vão.

O diretor Boris Sagal
Talvez tenha interessado ao diretor mais a aventura  do que a reflexão, enquanto que no livro de Matheson a aventura serve como ponto de partida para reflexão e é esta que dá sentido a aventura, que não deixa de ser eletrizante. O resultado é um filme com elementos atrativos, mas não muito convincente, apesar dos esforços do diretor e dos cuidados da produção. Charlton Heston, desempenhando mais uma vez o herói que se sacrifica pela humanidade, está ótimo como o Dr. Robert Neville, o Omega Man. A talentosa atriz Rosalind Cash perfeita como Lisa, mas quem mesmo rouba as cenas é o fantástico Anthony Zerbe como Matthias, o fanático mutante convencido de sua missão carismática. Sem dúvida, A ÚLTIMA ESPERANÇA DA TERRA é um verdadeiro clássico da década de 1970. 

Divulgação do filme no Brasil


País – Estados Unidos
Ano de Produção – 1971
Gênero – Ficção Científica
Produção - Walter Seltzer, para a Warner Bros (em distribuição)
Roteiro - John William Corrington e Joyce Hooper Corrington, com base no livro I Am Legend, de Richard Matheson.
Música – Ron Grainer
Fotografia - Russell Metty (em cores)
Metragem – 98 minutos

POSTER


Charlton Heston – Dr. Robert Neville
Rosalind Cash – Lisa
Anthony Zerbe – Matthias
Paul Koslo – Dutch
Eric Laneuville – Richie
Lincoln Kilpatrick – Zachary
Jill Giraldi – Pequena menina
Brian Tochi – Tommy
DeVeren Bookwalter – mutante
John Dierkes – mutante
Monika Henreid – mutante
Linda Redfearn – mutante
Forrest Wood – mutante


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