O Oscar, um dos eventos mais aguardados para os amantes do cinema em todo mundo.
Contudo, não é de hoje que Hollywood retrata sobre a premiação. Billy Wilder já havia explorado o tema em “Crepúsculo dos Deuses”(Sunset
Boulevard) em 1952, abordando os bastidores do mundo cinematográfico e a
decadência de seus ídolos, onde a capital cinematográfica, embora um “mundo de sonhos e
fantasias”, também pode ser muito cruel para com os artistas. Hollywood não é um lugar onde apenas
vivem as grandes estrelas. Pode ser um lugar onde
vivem também marginais, oportunistas e fracassados, como o personagem vivido
por William Holden em Sunset Boulevard, que ao se envolver com uma antiga
estrela de cinema que vive seu último
crepúsculo (Gloria Swanson), saudosa em suas reminiscências,
acaba morto por ela. Seu corpo, encontrado na piscina na mansão da
atriz, é uma das cenas mais antológicas desta grande obra que remete a capital
considerada “cidade das redes”.
Stephen Boyd é Frank Fane, um astro do cinema quase em decadência... |
disposto à uma última cartada: levar o prêmio máximo da Academia, o OSCAR. |
Tony Bennett é Hymie Kelly, o agente publicitário de Fane e seu ex-amigo, que relembra fatos passados entre os dois até chegarem a Hollywood. |
Em 1966, é
lançado Confidências de Hollywood (The Oscar), dirigido por Russell Rouse (1913-1987), tendo como
protagonista Stephen Boyd (1931-1977), o eterno vilão Messala de Ben-Hur, de William Wyler, em 1959.
Aliás, a fita é recheada de grandes astros e estrelas do passado. Produzido pelo produtor executivo da Paramount, Joseph
E. Levine (1905-1987), o mesmo que produziu sucessos como “Harlow, a Vênus Platinada” (1965), e “Os Insaciáveis”(1964), películas estas que remetiam ao mundo
cinematográfico da famosa capital dos sonhos e de seus bastidores, a história
justamente começa durante a entrega do Oscar de 1966, em Santa Monica,
Califórnia. Um dos candidatos à famosa estatueta, o astro semi-decadente,
Frank Fane (vivido por Boyd), tem sua carreira recapitulada pelo ex-amigo
publicitário Hymie Kelly ( o cantor Tony Bennett, 1926-2023 - em sua única incursão como ator). Os dois haviam trabalhado juntos numa boate localizada
em um vilarejo, onde a mulher de Fane, Laurel (Jill St. John), trabalhava como striper.
Frank e Hymie levam uma coça do brutal xerife vivido por Broderick Crawford |
Frank também sabe ser violento quando é preciso. |
Após uma
briga com o dono da boate, Frank e Hymie fogem, mas são capturados por um
brutal xerife, vivido por Broderick Crawford (1912-1986). Liberados, Os dois vão para Nova York. Frank vive de vigarices e trapaças, e como um
individualista egoístico, não se importa com ninguém e com nada, a não ser com
ele mesmo. Nem mesmo com a mulher Laurel se importa. Ela morre pouco tempo
depois, negligenciada por Frank.
Frank seduz Sophie (Eleanor Parker), uma empresária teatral, para conseguir seus objetivos. |
Sophie cai nos encantos de Frank mas acaba descobrindo que ele não passa de um gigolô. |
Sophie e o agente de Frank, Kappy Kapstetter, vivido por Milton Berle. |
Na capital
da Broadway, por um acaso, Frank inicia-se no teatro, vendo nisso oportunidade
de ganhar dinheiro. Afinal, ele é um homem bonito, alto, e sedutor, muito
confiante em si. Sendo descoberto por uma empresária teatral, Sophie Cantaro
(Eleanor Parker, 1922-2013), ela vai introduzindo o iniciante no mundo das
artes cênicas. Não demora muito, Sophie cai nos encantos de Frank. Seu único intento é seduzir Sophie para conseguir seus
objetivos e interesses. E consegue. Logo, Sophie arranja um agente para Fane,
Kappy Kapstetter (Milton Berle, 1908-2002). Sob os auspícios deste, Frank
consegue um teste em Hollywood e é introduzido no mundo do cinema, sendo
apresentado para os executivos e para a imprensa por um rico produtor, Kenneth
Regan (Joseph Cotten, 1905-1994). Com esta rápida escalada para o sucesso, Fane
não deixa de levar seu amigo Hymie para a “capital das redes”, e o torna seu
agente de Marketing. Contudo, como grande parte dos astros e estrelas de
Hollywood, que tem suas vidas pregressas ocultas antes de atingirem o estrelato,
a vida anterior de Fane não seria uma exceção.
Através de Sophie, Fane conhece Kay (Elke Sommer) |
Kay se apaixona por Frank |
E resolvem se casar. |
Chegando ao
sucesso, conhece a figurinista Kay Bergdahl (Elke Sommer), que se apaixona por
Frank. Os dois casam-se em Las Vegas, tendo como testemunhas Barney Yale
(Ernest Borgnine, 1917-2012), um detetive particular nada honesto, e sua esposa Trina (Edie
Adams, 1927-2008). Entretanto, as ocupações profissionais de Frank e as
chantagens de Barney contra este, que investigara sua vida pregressa, acabam
fracassando o seu casamento e sua carreira em Hollywood. Até mesmo a amizade
antiga com Hymie é abalada.
Os dois se casam em Las Vegas, tendo como testemunhas o casal Yale (Ernest Borgnine e Edie Adams) |
Não demora, Fane é chantageado pelo desonesto detetive vivido por Borgnine. |
Frank Fane e o produtor de Hollywood Kenneth Regan, vivido por Joseph Cotten. |
Mas Frank é
o que chamamos de “macaco-velho”. Ele sempre foi um mau caráter e só ascendeu
a carreira de astro de cinema graças aos seus méritos incontestáveis e a uma
falta de escrúpulos levadas ao extremo. Mas o que o levou a ser assim? O motivo
de sua frustração emocional são as prevaricações da mãe e o suicídio do pai,
que são brevemente reveladas ao longo da película. Frank Fane é um imediatista,
descrente do próximo, que procura um lugar ao sol sem se importar com os meios,
ou se vai magoar as pessoas. Mas é justamente em Hollywood que Fane é impelido
a um culto maior de suas más inclinações. E é por conta disso, vendo o fracasso
matrimonial e de sua carreira, que Fane
é impelido para uma última cartada, quando surge a chance do Oscar, que Frank
disputará desesperadamente, contudo, usando de praxe seus métodos fraudulentos
de autopromoção. Ele tem inimigos que querem ver sua arrogância caída por terra.
O agente Kapstetter (Milton Berle) falando para Frank que ele nunca ganhará o Oscar, e que não sabe atuar. |
Kay (Elke Sommer) desabafa para Hymie (Tony Bennett) os problemas matrimoniais com Frank. |
Sob os olhares de Hymie (Tony Bennett) e em apoio a ela, Kay (Elke Sommer) pede o divórcio para Frank (Stephen Boyd). |
Seu agente,
Kappy, já não nutre mais simpatias por Fane, e ainda declara ao seu cliente que
ele não é um ator, pois o papel que desempenhou em seu filme não passou de um
reflexo de seu próprio caráter, e que suas chances de ganhar o prêmio da
Academia são mínimas. O produtor Kenneth Regan também não gosta nem um
pouquinho de Frank e arrepende-se de lança-lo em Hollywood. Hymie, o ex-amigo,
sente repulsa por ele. A ex-esposa, Kay, só lhe restou sentimento de pena,
apesar de ainda ama-lo. Não demora pelas leis demiúrgicas da moralidade decidir
pela punição de Fane, por todos os bem pensantes integrantes da cidade das redes e
do glamour que, empolgados, veem a frustrada e patética luta do vigarista para
a conquista do Oscar.
Frank Fane, um verdadeiro narcisista. |
Fane discute com Hymie e seu agente Kapstetter seus trâmites profissionais. |
Confidências de Hollywood é um melodrama sobre Hollywood e os
bastidores do prêmio máximo da Academia. Russell Rouse dividiu a direção desta
obra com Clarence Greene, um roteirista. Os dois já haviam realizado juntos “O Poço da Angustia” (1951), e “Gatilho Relâmpago” (1955). Para o
produtor executivo Joseph E. Levine, Rouse e Greene já haviam realizado “Uma Certa Casa Suspeita”(1964). Com “The Oscar”, é mais uma parceria do
trio, cuja produção obedece às fórmulas que Levine já havia utilizado em “Harlow” e “Os Insaciáveis” – sexo, amor, poder, glamour e ambição. O filme produzido em 1966 (e lançado nos
cinemas cariocas em fevereiro de 1967) conta com um elenco de estrelas, a despontar Ed Begley (1901-1970), Walter Brennan (1894-1974), James Dunn
(1901-1967), e as breves aparições de Peter Lawford (1923-1984), Merle Oberon
(1911-1979), Bob Hope (1903-2003), e Nancy Sinatra, além da figurinista da Paramount Edith Head
(1897-1981) e a fofoqueira de Hollywood Hedda Hopper (1885-1966).
As duas belas mulheres seduzidas por Frank: Sophie (Eleanor Parker) e Kay (Elke Sommer) |
Contudo, para ele, são apenas negócios. |
Frank Fane, e seu olhar para um futuro vitorioso, que pode ser passageiro. |
Em verdade, uma
fita com uma inigualável competência artesanal, alcançando dos intérpretes
principais (principalmente Stephen Boyd) participações muito expressivas e
convincentes. O filme foi baseado em romance de Richard Sale (1911-1993). Certamente
um filme capaz de interessar quem curte uma abordagem sobre Hollywood, seus
bastidores, e as maquinações na “Meca” da Sétima Arte. A trilha sonora é assinada por Percy Faith
(1908-1976).
DIVULGAÇÃO |
Ficha
Técnica
Confidências
Em Hollywood
(The Oscar)
Ano:
1966
País:
Estados Unidos
Direção: Russell Rouse e Clarence Greene (roteiro)
Produção: Joseph E. Levine e Clarence Greene, para a Paramount Pictures e distribuição
Roteiro:
Harlan Ellison , Clarence Greene , Russell Rouse
Gênero: Drama
Fotografia: Joseph Ruttenberg. Em cores
Trilha Sonora: Percy Faith
Duração: 119 minutos.
A desesperada e patética luta de Frank Fane pela conquista da estatueta. |
ELENCO
Stephen
Boyd - Frank Fane
Elke
Sommer - Kay Bergdahl
Milton
Berle - Alfred ('Kappy') Kapstetter
Eleanor
Parker - Sophie Cantaro
Joseph
Cotten - Kenneth Regan
Jill
St. John - Laurel Scott
Tony
Bennett - Hymie Kelly
Edie
Adams - Trina Yale
Ernest
Borgnine - Barney Yale
Ed
Begley - Grobard
Walter
Brennan - Orrin C. Quentin
Broderick
Crawford - O Xerife
James
Dunn - Executivo da emissora
Jean
Hale - Cheryl Barker
Edith
Head - Edith Head
Bob
Hope - Bob Hope
Hedda
Hopper - Hedda Hopper
Peter
Lawford - Steve Marks
Merle
Oberon - Merle Oberon
Frank
Sinatra - Frank Sinatra
Nancy
Sinatra - Nancy Sinatra
Anúncio do filme em um jornal carioca, fevereiro de 1967. |
Matéria originalmente publicada (e revisada) pelo redator no extinto Filmes Antigos Club em fevereiro de 2016.
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